Blog do Edson

A Roma do Alfredo

   
A noite estava propicia para extravasar os sentimentos mais nobres do ser humano. A amizade, o amor, a sinceridade, a alegria...

Temperatura de verão e o caminhar descontraído e seguro pelas ruelas de Roma. Conversa animada sobre as alegrias da vida.

Parei em frente a uma fonte de água natural e  - como uma criança que se depara com um brinquedo – juntei as mãos, acumulei uma quantidade e sorvi despreocupado porque lá o líquido da vida não tem poluição.

Os canais subterrâneos construídos pelas mãos do Homem distribuem água para todos, com diversas fontes espalhadas nas praças e monumentos  da cidade.

Além daquelas famosas como a Fontana di Trevi há muitas outras. 

A Fontanela degli Innamorati, situada quase ao lado da de Trevi,  por exemplo, é protagonista de um ritual romântico que garante fidelidade aos casais que beberem juntos a sua água. Magia exteriorizada pela mais famosa – Fontana di Trevi -  que para se garantir um retorno à Roma e  alguma riqueza  deve-se atirar uma moeda em suas águas.

E, assim, caminhando e absorvendo conhecimentos da cidade Eterna, cheguei até o Restaurante Alfredo alla Scrofa, o autêntico, fundado em 1907.

O Senhor P. Martini, juntamente com sua Mme. D. B.Oliveira  havia feito uma reserva no horário combinado.

O atendente nos acomodou numa mesa ao lado de quadros de grandes figuras do mundo artístico.

- Lembra-se da ultima vez que tentamos um fettuccine, do Alfredo? Perguntei para Mme. M.L.

- Sim. Foi no Epcot, em Orlando. Chegamos cedo mas não conseguimos sequer uma reserva, de tão lotado. Almoçamos no espaço da Noruega, por recomendação da jornalista Marian, lembra?

- Me recordo sim. E, estava excelente aquele almoço. Mas ficou na lembrança o Alfredo. E, agora cá estamos.

E, os diálogos derivaram para os feitos das famílias, dos passeios e lugares recentes...

Vieram os pães e o vinho, um Joseph Hofstätter, gewürztraminer, safra 2013.

 O brinde foi correto.

Depois das boas conversas houve um intervalo – uma expectativa para o que estava por vir.

- ???

Num gesto incompreensível, o garçom aproximou-se e  retirou o prato que estava à frente de Mme. D. Oliveira e se dirigiu à cozinha.

Ficamos olhando um para o outro com interrogações e mais interrogações, surpresos pelo inusitado.

Passado alguns minutos ele voltou empurrando um carrinho com uma generosa terrine contendo  o famoso fettuccini, já preparado com o queijo, a manteiga e outros ingredientes secretos.

Dividiu a quantidade  em três porções, e, a quarta porção foi entregue à Mme. D., “como manda a tradição italiana”.

E, assim foi desfeita a primeira surpresa.

 A do prato.

A segunda ( o fettuccini)  foi desvendada em seguida.

Estava delicado, harmonioso e sonhador ( se é que um fettuccini pode ser sonhador, atento(a)  leitor(a))...

Provocou percepções extra-sensoriais, além dos cinco sentidos.
Uma magia além dos limites da compreensão humana.

 Após algumas garfadas voltei ao estado normal já refeito das primeiras impressões, mas, como um imã, o garfo voltava para o prato, ainda com alguma massa restante. O final foi integralmente consumido, provocando uma sensação de euforia.

As  tortas trufadas e frutas da estação foram consumidas de forma cadenciada.

-O verão está provocando altas temperaturas. Amanhã iremos passear em Frascati no final da tarde. A temperatura é mais amena e poderemos caminhar e conhecer alguma cantina, disse o Senhor Martini.

Houve concordância geral.


SERVIÇO
Restaurante Alfredo Alla Scrofa
Via della Scrofa 104 |
 Vicino Piazza Navona,

 00186 Roma, Italia

O mais antigo do mundo

Quantas portas de entrada têm Madrid?

Para descobrir contei algumas.

As mais antigas eram quatro, quando  a cidade apenas um povoado.

Ao contar as portas descobri que Madrid é uma grande praça, cercada de pequenas cidades. E, nesta existem algumas vias de trânsito lento e outras somente para pedestres. 
É limpa, respeitosa e ao mesmo tempo barulhenta. 
Os barulhos são diversos. 
Das conversas altas nas ruas, principalmente das vozes femininas; dos sinais de trânsito que emitem um barulho para chamar atenção sobre o tempo disponível para os veículos e para os pedestres. E, principalmente dos barulhos de pratos, talheres e copos vindos dos bares e restaurante. Estes sim afugentam os ouvidos mais sensíveis...

Afora os barulhos, turistas e o calor nesta época do ano, Madrid é perfumada. Há os perfumes dos ciprestes, das alfazemas e dos jamons pendurados nas entradas dos locais exclusivos para tapas.

Ao circular pelas proximidades do Mercado de São Miguel, descendo a calle de Cuchilleros parei para descansar em frente ao número 17. 

Já passava das 19 horas, mas a luz do sol era intensa.

- É aqui. É aqui, disse Mme. M.L.

- Aqui, o quê ? Interroguei, assustado.

É aqui o local que o Sr. C. de Oliveira nos recomendou...

Lembrei de uma conversa que tivera ainda em Curitiba com o bom amigo C. de Oliveira que visitou alguns meses antes o mesmo local e me havia dito que era o restaurante mais antigo em funcionamento.

Olhei para uma placa acima da porta de entrada:
Restaurante Sobrino de Botín ( Horno de Assar).

É. É aqui mesmo, ainda meio gaguejando, e com suor nas mãos.

Me aproximei de uma janela lateral à porta principal, ainda extasiado pelo fato de estar diante de um verdadeiro monumento da gastronomia mundial.

Fiz uma detalhada leitura de um certificado concedido pelo Guinness, o livro dos Recordes. Lá consta e registra o local como o mais antigo restaurante em funcionamento.

Desde 1.725 !!!

Uau!!! Onde fui parar?

Ainda com a respiração irregular fui me afastando daquele local para retornar no dia seguinte, com reserva confirmada para as 21 horas.

Confesso que passei o dia seguinte apreensivo para o que viria acontecer naquele local.
Traje social como convém, cheguei no horário reservado.

 - Mesa para dois.

- Esta. Apontou o gentil atendente, para uma, com dois lugares, na sala de entrada.
Olhei detalhadamente para as paredes, com tijolo à vista, a toalha de linho branca, os pratos de aparência simples e talheres adequados, bem como os copos e taças.

Com o cardápio de opções racionais pedi o ” menu da casa, para a estação primavera e verão”, que consiste em um Gazpacho , leitão assado e sobremesa, além de pão, vinho, cerveja e água mineral.

Mme. M.L., pediu um bacalhau grelhado com molho de tomates.

Silencio.

Vieram os pães, quentinhos.

Em seguida o vinho, encorpado, frutado, com um toque de carvalho.
O gazpacho, frio, adequado para o verão.

E as atrações: o bacalhau em uma terrine, foi servido em partes.

E, o leitão.

Veio tenro, crocante por fora, com um tempero equilibrado, acompanhado de batatas assadas no mesmo molho. E, deve ser comido com nacos de pão molhados no tempero.
O leitão é assado no antigo forno -  arquitetura mourisca  -  que depois de  quase três séculos de construção ( desde1.725 )ainda  assa leitões da região da Segovia , que são uma das atrações da Casa. Para aquecer é usado madeira de carvalho que confere ao animal um aroma único. Com abertura exterior e a porta aberta torna menor a temperatura e o processo de cozimento mais demorado, cozido, para  obter o ponto de excelência e qualidade do leitão e cordeiro assado ao estilo tradicional.

Foi consumido aos poucos. Sem pressa. Cadenciado. Sorvido, como se eu quisesse receber todos os conhecimentos que por ali passaram.

Quanta história...

Guerras, conflitos, amores, crises, seduções, feitiços, fortunas...

- ???

Bem à minha frente, um jovem que havia terminado de jantar retira uma camisa e expõe uma regata. Devolve a camisa ao garçom. Emprestada. Porque alí não se permite trajes inadequados.

Aprovei a sobremesa, uma tortilha de maças, levemente aquecida e com massa crocante. E um sorvete feito na Casa.

Após , o  gerente Sr. A. González Bennike, me convidou para conhecer as outras salas onde são servidas as refeições. E, por fim, o forno, datado de 1.725 e em funcionamento até hoje.

-Há um registro de que Goyá, o pintor, trabalhou aqui por um período, disse, com orgulho, o Sr. Bennike.

Não é pouca história...

SERVIÇO
Restaurante Sobrino de BOTÍN
Calle Cuchilleros, 17
Madrid – Espanha