Blog do Edson

De volta às origens




 

Pairava no ar um sentimento de cidadania.

Afinal, após alguns meses de tramitação de documentos, enfim ei-la.

A carta de reconhecimento de vinculo com a nação tão esperada.  

E, a alegria tomou conta daquele final de manhã em torno da Place Guillaume  II, no coração da cidade de Luxemburgo. Fazia um frio absurdo para os padrões europeus. O vento trazia gotas de água congelada que dificultava o caminhar. Não era neve ainda. Era um fenômeno conhecido como chuva congelada.
Não importava aquilo.
O fato do reconhecimento de sua origem transbordou Mme M.L. de felicidade e suas lágrimas de alegria interagiram com as gotas de chuva. A foto oficial em frente ao Bierger Centre (para registrar o acontecimento) foi preparada com muita antecedência, ainda em Curitiba, no sul do Brasil.

Um charmoso chapéu fazia parte da indumentária, bem como um sobretudo xadrez com pele na gola, uma echarpe e botas, além das inseparáveis luvas de pelica marrom.

Fotógrafo à postos e... voilá!!! 

Foi o momento da consagração.
Agora, finalmente a jovem senhora exibia o documento expedido pelo governo luxemburguês, com orgulho da sua descendência, junto ao seu corpo afixado discretamente ao lado esquerdo.

Passada a euforia pôs-se a caminhar ainda a passos lentos,  para sentir toda aquela atmosfera reinante de seu novo país. Olhava com admiração para os prédios antigos, para as ruelas ainda iluminadas pelas luzes das lojas, dos cafés, dos restaurantes. E, a cada passo, novas descobertas... Um turbilhão de informações. 

Depois de circular por mais de 15 minutos por aquele centro histórico, ela se deteve numa vitrine da loja Louis Vuitton. E continuou seu encantamento com outras lojas tão famosas quanto esta.

E prosseguiu em suas descobertas até que o frio a obrigou a interromper seus novos conhecimentos. Procurou algum lugar que pudesse lhe aquecer.

Lembrou, por uma fração de segundos, que precisava se alimentar.

Tinha acordado muito cedo e seu desjejum foi rápido por causa da euforia daquele dia que era histórico para ela e para a sua família.

 - Vamos entrar aqui, disse, apontando para a porta de um restaurante (que leva o nome da praça) ainda na Place Guillaume, ao lado de uma galeria.

Concordei de imediato, passando os olhos rapidamente para a brilhante vitrine lateral do restaurante com peixes, crustáceo e outras coisas que não pude distinguir.
Nos receberam com cortesia e nos encaminharam para uma mesa com vista para a praça.

Me desfiz dos pesados agasalhos, bem como a madame, agora cidadã luxemburguesa.
- Quero de entrada algumas ostras de número cinco. As ostras vindas da Irlanda deixarei para outro momento, disse ao jovem garçom que entendia muito bem o português falado.

E, pode nos preparar o bacalhau fresco com legumes.

- Ah ! Não esqueça a cerveja da casa!!!

A gentileza e atenção dos funcionários foram destaque para essa incursão.
Veio, em seguida, algumas fatias de pão tradicional, com molho vinagrete.
E, as ostras acomodadas numa cama de gelo. Simpáticas, atraentes e frescas.

Foram consumidas rapidamente.
Depois, chegou o bacalhau...

Olhei atentamente para ele, e em seguida para Mme M. L..

???

Sua reação foi de espanto e admiração.

O visual daquela parte do animal foi surpreendente.

Um belíssimo lombo de bacalhau adornado por legumes no vapor e batatas.
A coisa era linda. Competia bravamente com a visão da praça.

As primeiras lascas foram consumidas avidamente para confirmar se era tudo aquilo mesmo.

Madame M.L., estava exultante com a beleza da apresentação.

Da minha parte estava perfeita.

O diálogo foi sobre a agradável ambientação e sobre a temperatura interna. Sobre a exuberância da praça e seus prédios como Hotel de Ville à nossa frente e sobre a neve...

NEVE !!! exclamei, surpreso.

- Sim, caindo neve, disse a Mme.

Nos dividimos entre a delícia do preparo daquele peixe fresco, com a visão da neve na praça. Algo indescritível para os que moramos num país tropical.
Foi mais um momento sublime.

Complementamos o almoço com um tradicional crème brûlée e um café adequados, ainda extasiados.

Aproveitamos todas aquelas maravilhas olhando atentamente para a praça e seu encantamento e charme com a neve.

SERVIÇO
Brasserie Guillaume
12-14 Lugar Willian II
L-1648  Luxemburgo
Tel: +352 26 20 20 20
e-mail bg@pt.lu

Michelin em Luxemburgo



Dentro de um táxi, ainda em Frankfurt, na Alemanha disse ao motorista:
- Toque para a estação de trens. Irei para Luxemburgo.

O motorista olhou com o canto dos olhos e esfregando os dedos polegar e indicador da mão direita me falou:

-Luxemburgo? Money, money ...

De pronto  não havia entendido aquela expressão,  já que estava na Europa e o euro é a moeda circulante.

Enfim...

Luxemburgo é o único grão ducado reconhecido como tal, autônomo,  e se expreme entre a Alemanha, a França  e a  Bélgica. Com 900 mil habitantes em seu território muito reduzido pelos conflitos e acordos espúrios, se acomodam algumas etnias. A língua nacional  é o luxemburguês. O francês e o alemão são línguas oficiais. Quase todos os motoristas de táxi (Mercedes-benz) falam português. Da mesma forma que o inglês. O uber foi banido no grão ducado. E, no inverno, neva.  Cai muita neve. Existem quatro moradores de rua – que se negam a sair desta condição. Eles mantém seus cachorros na coleira, porque é exigência de lei. São conhecidos pelos nomes e adotados pela comunidade. Após as 20 horas não se paga passagem de ônibus. Nem aos sábados, e muito menos aos domingos. Todos os ônibus urbanos tem ar condicionado e serviço especial para cadeirantes. Pode-se transportar bicicletas e carrinhos de bebê. O comercio é dinâmico. Tem o supermercado  Monoprix – do grupo francês Casino, fundado em 1933 (que faz a alegria de todos porque praticam preços honestos).

Tem pubs, bares, cafés e restaurantes...

Já no final da tarde me acomodei no elegante hotel Parc Belair, com calefação. O termômetro marcava -7 graus, mas sem precipitação de neve.

Haviam me recomendado um restaurante às margens do rio Alzette, na parte baixa e antiga da cidade de nome Mosconi.

Convidei Mme M.L., para mais esta incursão. 

Aceitou com ar solene, superando a fatiga de uma tarde dentro de um trem.

No caminho observei uma parte da cidade, numa mescla de prédios antigos e outros modernos. Poucas pessoas nas ruas por causa do intenso frio.

A recepção foi solene e gentil, mesmo sem reserva agendada. A lareira em pleno funcionamento aquecia o ambiente. Num pequeno elevador fui conduzido, juntamente com Mme M.L., a um dos salões de jantar. A decoração sóbria com alguns quadros e esculturas delicadas dão o tom do ambiente. Observei que tudo estava no seu devido lugar como deve ser.

Talheres, copos, guardanapos, sousplat, toalha e equipamentos periféricos de suporte.
A gentil e simpática Mme Simonetta Mosconi nos deu as boas vindas.

- Certamente que M. Illário Mosconi está no comando da cozinha, pensei.

O pequeno couvert veio acompanhado de pão italiano com ervas e patês.

Depois de algumas surpresas me foi apresentado uma das estrelas da Casa:  
Crostins de foie gras chaud, creme de haricots blanc, canellini et vieil aceto balsâmico 25 ans d’age.

Até então nada havia sido comparado com o que me foi apresentado. Causou um enorme prazer para os olhos e para a língua.

Para complementar um espumante Ferrari Brut  Chardonnay, que é produzido desde 1902 pela vinícola Ferrari, de Trento.

Esta vinícola recebeu, em 2015, o premio de melhor vinícola da Europa pela WinneEntusiast.

A elegância e delicadeza do menu oferecido foi seguido pelas massas produzidas de forma artesanal. Recebi um ravióli di ricotta, pecorino et parmesan, beurre fondu, que me remeteu para as colinas de Frascatti, na Itália.

Mme.M.L., que estava se recompondo das apresentações anteriores, recebeu um pappardele à l’ail doux et romarin, ragoût d’agneou et cardons.

As massas foram consumidas de forma cadenciada, como os passos de uma valsa vienense.

Para complementar, antes de servir o café recebi uma prancha de Quelques Plats et Desserts, de chocolates, pralines e marzipan.

Ao me despedir dos funcionários  do restaurante Mosconi, Mme M. L., foi brindada com um delicado presente: fatias crocantes de bolo inglês e uma edição do livro Les Grandes Tables Du Monde 2018, no qual consta o Restaurante Mosconi, à página 189.
Único restaurante luxemburguês desta edição.

Há 30 anos, Illario e Simonetta Mosconi são personalidades da gastronomia luxemburguesa. 

Primeiro em Esch-sur-Alzette, com o Restaurante Domus, então, em 2000, na capital. Lá, Illario inventa uma cozinha de inspiração italiana.

Este conhecido endereço europeu recebeu entre  suas muitas distinções,  uma estrela Michelin,  um 18 em cada 20 Gault & Millau e um ranking com Relais & Châteaux.

A escolha da primeira noite fria no Grão-Ducado de Luxemburgo, na mesa do restaurante Mosconi,  com vista para o rio Alzette, garantiu a experiência  e uma sensação de plenitude necessárias.

Só isso, por enquanto.


RESTAURANT MOSCONI
Membro da Relais & Châteaux desde 2005

13, rue Munster
L-2160, Luxembourg
Tel.: 
+352 54 69 94
Fax: +352 54 00 43

E-mail: 
mosconi@relaischateaux.com