Blog do Edson

Prazeres do Mercado

 


 Edson Luiz Vieira 2/10/2008 05:10:00 PM (atualizado em 30.08.2024)

 Ney Braga foi um homem notável no seu tempo.

Deixou marcas de desenvolvimento e prosperidade para várias gerações. Reverencio seu nome porque dentre tantas ações realizadas, foi o mentor e fundador do Mercado Municipal de Curitiba, lá pelos idos de 1958.

 Mais precisamente dia 2 de agosto.

 Há 66 anos as banquinhas de frutas, verduras e comidas do Mercado Municipal me dão prazer para os olhos, nariz e para a língua.

Neste sábado, fui de taxi até o Mercado, mais precisamente para o Box do Eliseu, de propriedade do mais simpático sansei do espaço gastronômico.


Pedi peixe à milanesa para três (eu, Mme. M.L. e Mlle. H.) com os tradicionais acompanhamentos, ao custo de R$ 10,00 por unidade.
Nos foi servido inicialmente uma leve salada individual com folha verdes, tomates, repolho ralado e... dois quadradinhos de tofú em cada porção.


Em seguida a atração principal - filé de pescada à milanesa - com seus complementos, arroz com legumes e fios de ovos e feijão amarelinho.


Perguntei para Mlle. H.:
- Peixe combina com feijão?
- Penso que não, mas esse está uma delicia, respondeu!
As porções foram suficientes e devidamente consumidas entremeadas por alegre conversa, adequada para um almoço de sábado, sem qualquer exigência.


Visualizei o teto abobadado, ouvindo os barulhos, observando as pessoas, as mesas apertadas e disputadas... e mais uma vez, em silencio, agradeci ao Ney
Braga e a todos os prefeitos que o sucederam.


Serviço:

 Box do Eliseu - Rua Sete de Setembro, 1865.
Simples como o ambiente, mas com certificado de qualidade e higiene emitidos pelo Senac.

 

 

 

(Adendo)

Após este registro histórico dos anos 2008, retornei diversas outras vezes ao Mercado Municipal, e, felizmente acabei me mudando para um local, bem próximo. Facilitando assim aproveitar as delicias deste icônico local.

E, o Box do Eliseu continua o mesmo.

Cada vez melhor.

A ultima piada que ouvi ( e testemunhei) do espirituoso Elizeu foi a seguinte:

O cliente pergunta “ como é este bolinho de carne”... repleto de obscuras perguntas.

- É de carne... respondeu o impassível Elizeu, com ar de paisagem.

Cai num riso descontrolado, tentando disfarçar aquela situação constrangedora, mas oportuna.

Assim é o mais descontraído chefe e gerente do correto Box do Elizeu, que com D. Sueli, e, agora com apoio de seu filho Lucas, administra o espaço mais democrático e acessível do Mercado Municipal.

Elizeu Sugimati vem de uma linhagem de bons comerciantes de alimentos e atinge seu ápice depois de enfrentar uma pandemia que quase afetou o seu comércio.

Antes da pandemia vendia cerca de 240 refeições por semana. Aos sábado chegava a vender até 400.  Na pandemia cheguei a vender sete refeições, num sábado.

“Felizmente passou e hoje estamos restabelecidos daquela situação.”

O bolinho de carne, objeto de tantas piadas engraçadas já foi considerado o “melhor bolinho de carne” da cidade. E não é para menos. Feito com ingredientes de qualidade é vendido por unidade e pode ser acompanhado pelo PF, ou, prato feito, a recomendação mais pedida do BOX.

E, Elizeu, continua alegrando e distraindo seus inúmeros amigos e clientes de seu famoso Box do Elizeu.

Gran gala de tango


Encantado pela beleza arquitetônica adentrei ao recinto procurando pela bilheteria daquele imponente Teatro, num dos lados da Praça Independência, no centro histórico, em Montevidéu.

O Teatro Solís, faz parte da cultura do país, com intensa programação, desde a sua inauguração em 1856. Referencia na arte e na cultura da América do Sul, juntamente com o Teatro Cólon, de Buenos Aires, com estilo neoclássico projetado pelos arquitetos Carlos Zucchi e Victor Rabu. O Teatro Solís tem capacidade para, pelo menos 1500 lugares.

 No final daquela tarde, na ultima semana de abril, adquiri dois ingressos para assistir a atração da noite: Gran Gala de Tango.

 Aguardei, juntamente com Mme. M. L., o momento para adentrar àquela sala de espetáculos com a Orquestra Filarmônica de Montevidéu à postos.

Abriram-se as cortinas.

O diretor e maestro Martín García nos convida para o show de apresentação da Orquestra e seus convidados. Ao piano, Álvaro Hagopián; bandoneones, Néstor Vaz, Martin Pugin, Sergio Astengo e Abril Farolini; guitarra, Julio Corbelli; e os bailarinos Frederico Garcia, Mercedes Fariña, Camila Rocha e Kelvin Cal.

 “A programação alterna temas instrumentais, cantados e dançados, sendo um amálgama das quatro artes do gênero: música, canto, poesia e dança. Piano, bandoneon e guitarra e demais instrumentos musicais  formam uma grande orquestra de tango, fiel ao som e tradição dos lendários grupos de tango.”

 O primeiro ato do repertório foi a execução da música Melancólico, do argentino Julián Plaza (1928-2003).  Momento mais que consagrado para abrir aquela noite memorável. Seguiram-se, Uno,  de Mariano Mores (1918 – 2016) y Enrique Santos Discépolo (1901 – 1951) , na voz de Valeria Lima; Mala Junta,  de Julio de Caro(1899 -1980) y Pedro Laurenz (1902 -1972); Juárez, de Frederico Araujo; Preludio para el año 3001, de Astor Piazzolla (1921-1992) e Horácio Ferrer (1933 – 2014), na voz de Valeria Lima; Naranjo em flor, Virgilio y Homero Expósito(1918 -1987), na voz de Valeria Lima; Chiqué, de  Ricardo Brignolo (1892 -1954); Jugador,  de Pao Larama y Javier Toledo, com arranjos de Álvaro Hagopián; Buenos Aires – Tókio , por Julián Plaza (1928-2003);

Foram apresentadas também algumas inserções como Taconeando,  Pedro Maffia (1899-1967) y José Horácio Staffolani (1898 -1968); Recuerdos, de Osvaldo Pugliese (1905-1995) y Eduardo Moreno; e, Canaro em París, (Juan Caldarella (1891-1978) Alejandro y José Scarpino (1904-1970), com a apresentação especial do guitarrista uruguaio de tango e folclore, Julio Cobelli.

No encerramento houve apresentação de quatro obras, a saber:

Galas de Tango (Franco Polimeni); Mi vieja viola, de Humberto Correa, a voz de Valeria Lima  Balada para um loco, de Horácio Ferrer y Astor Piazzolla, na imponente voz de Valeria Lima, e Danzarín (Julián Plaza).

Foram quase dez minutos de aplausos. Sob forte emoção o sangue rio-platense correu mais forte em minhas veias. Difícil não conter as lágrimas, de muita alegria e felicidades por ter presenciado um momento de rara beleza, de encantamento e grandes recordações. Afinal, as músicas executadas foram em sua grande maioria compostas ainda no século passado.

Saindo da majestosa sala do teatro nos deparamos com o Allegro Café, no hall da Sala Zavala Muniz, onde fizemos uma pausa para nos recuperarmos da exuberância com que fomos brindados.

- Dois cafés com media luna, e nada mais, disse.

Saimos caminhando tranquilamente deixando para trás o Teatro Solís ainda iluminado, bem próximo da Puerta de la Cidadela, na Praça da Independência, onde convidei  Mme. M.L., para  jantar.

- Que acha de almoçarmos amanhã no Mercado del Puerto e em seguida, tomarmos um café com alfajores,  disse Mme., ainda meio extasiada pelo que acabara apreciar em Montevidéu.

- Combinado.

 

SERVIÇO

Teatro Solís

Calle Reconquista S/N, esquina com Bartolomeu Mitre, 11000

Montevidéu - Uruguai

Uruguai se reinventando

 Um país extremamente simpático e se reinventando a cada período, com uma exemplar organização social, econômica e política. Assim é o Uruguai, que possui quase mil quilômetros de fronteira com o Brasil onde faz divisa com o estado do Rio Grande do Sul. Se caracteriza por uma enorme diversidade de paisagens, clima equilibrado e um dos melhores produtores de alimentos de alta qualidade da América.

Uruguai produziu 13,5 TWh –  TWh é uma unidade de medida da energia equivalente a 1000 GWh, ou seja, um bilhão de kWh.  Sendo 40% de energia eólica, 30% de hidrelétrica, 20% de biomassa, 6% de combustíveis fósseis e 4% de energia solar. Estes dados são do inicio da década, e até hoje sem alteração significativa.

Portanto, um país estável, com energia abundante, parque industrial sólido e em crescimento, infraestrutura disponível, com áreas urbanas com alta porcentagem de água potável e esgotamento sanitário plenamente suficiente para evitar surtos de dengue, por exemplo...

E, um dado interessante: não há favelas na capital, Montevidéu.  Quem me explicou de forma pedagógica foi uma motorista de taxi. “O Governo identifica casas e prédios abandonados. Recupera-os e deixa em condições de habitação. Acolhe famílias previamente cadastradas e acomoda nestas unidades urbanas, com uma condição. Num prazo de 180 meses o chefe da família deve apresentar comprovante de contrato de trabalho, assumindo assim um compromisso de pagamento – muitas vezes simbólico -, mas necessário para a inserção social.”

Montevidéu está há duas horas de distância de Curitiba, capital do Paraná,  via aérea. A companhia Azul faz a ligação com confortáveis aeronaves Embraer 190-E.

Já se passava das 15 horas e decidi ouvir os apelos de meus instintos. Onde poderia suprir minha curiosidade sobre as famosas parrilhas, a está hora, questionei para mim mesmo. Alguém me falou sobre um restaurante que funciona desde 1962, na rua San José, 1080, lembrei.

Caminhando,  cheguei ao local, acompanhado alegremente com Mme M.L..

 Adentrei e fui recepcionado por uma voz grave:

- Sejam Bem Vindos.

Perguntei se ainda estavam atendendo, pois que de imediato o recepcionista (que depois vim a saber, tratava-se de um dos sócios) me assegurou:

- Trabalhamos do meio dia até meia noite.

Me senti entre amigos.

Já na mesa 13, sala principal,  recebi uma simpática taça de espumante, da mesma forma que  Mme M.L.

Levantamos um brinde aos países irmãos.

O cardápio é extenso. Abre com parrilha, segue com frutos do mar e encerra com massas artesanais, além de entradas e sobremesas. Há também mais de quatrocentos rótulos de vinhos produzidos nas excelentes caves do Uruguai, bem como de vinhos produzidos nos países vizinhos.

O pedido para dois veio no tempo certo.

O entrecot com batatas fritas estava correto, na textura, no suave tempero e levemente assado quase ao ponto. Da mesma forma que as fritas. Acompanhadas com uma taça de vinho da casa. E, por fim, uma deliciosa torta gelada com amêndoas.

O restaurante El Fogón fica no centro da capital, com mais de sessenta anos de existência. E traduz o que há de melhor da gastronomia do Uruguai. Tem capacidade para atender até 280 pessoas nos quatro salões, mais um espaço na adega. As massas do cardápio são elaboradas de forma artesanal. Os cortes especiais das carnes pertencem a uma reserva exclusiva. Há também uma filial do restaurante El Fogón  na praça de alimentação do Shopping Punta Carretas.

Após nos despedirmos dos funcionários do El Fogón, apressamos o passo para chegarmos até a bilheteria do Teatro Sólis, na praça Independência. Mas está imponente atração será objeto de outro texto, proximamente.

 


SERVIÇO

Restaurante El Fogón (centro)

Rua San José, 1080

Fone (+587)290 0900

elfogon.com.uy

Consertada da Armação

 

Uma bebida açoriana conhecida em regiões litorâneas de Santa Catarina pelo nome de consertada foi o ponto de partida e a gentil acolhida de boas vindas, na praia de Armação do Itapocorói, Penha (SC). O encontro ocorreu por acaso, na Petiscaria do Élio – Tradição em Frutos do Mar.

A consertada, ofertada no balcão do estabelecimento, foi consumida alegre e delicadamente. Em dois goles foi possível absorver aquele verdadeiro licor popular em um pequeno copo, que não era de cristal, mas utilizado como se fosse. E foi o inicio de uma agradável acolhida e diálogo sobre a cultura, a gastronomia e os movimentos sociais do povo açoriano que se implantou ao longo dos 40 municípios de Santa Catarina.

Élio, que atende a todos com muita gentileza e atenção, está à frente da petiscaria desde 1984. E aplica os conhecimentos de além mar. Se utiliza da pesca artesanal para oferecer produtos frescos usando alguma técnica culinária sem grandes pretensões. Uma anchova grelhada acompanhada de pirão levemente temperado, camarão soltinho ou ao bafo, bolinhos de peixe, e, mariscos ao vinagrete, fazem parte das atrações principais. Há também complementos como saladas, arroz, batatas fritas, e frango para quem é intolerante aos produtos do mar.

Descobrir a Petiscaria foi uma feliz volta no tempo com acumulo de muita história que remete aos primeiros 461 açorianos de deixaram suas terras na ilha de Açores em busca de um novo eldorado. Foi instituída a data de seis de janeiro porque neste dia no ano de 1748, está registrada a chegada dos primeiros açorianos na ilha de Santa Catarina, Florianópolis. Estas pessoas embarcaram no porto de Angra do Heroísmo no dia 21 de outubro de 1747 com destino ao Sul do Brasil. As Galeras “Jesus” e “Maria José” sob o comando do capitão Luís Lopes Coelho trouxeram a bordo 85 casais e seus familiares vindos das ilhas Terceira, Faial, São Jorge e Pico. Eram trabalhadores que tinham por vocação a agricultura. Aqui se adaptaram a pesca, principalmente da baleia, por ser abundante. 

A obra do pesquisador catarinense, de Nova Trento, doutor Walter Fernando Piazza, sob o titulo “A epopeia açorio-madeirense”, de 490 páginas, é considerada a mais completa sobre a vinda dos açorianos para Santa Catarina. Ele pesquisou em arquivos brasileiros e portugueses inclusive açorianos. Em doze capítulos discorre sobre os motivos que levaram os açorianos a migrarem para as terras brasileiras.

O tema é vasto e inconclusivo. Tem um tratamento especial junto a academia. A Universidade Federal de Santa Catarina trata do tema através do Núcleo de Estudos Açorianos (NEA) que oferece reuniões permanentes e estudos, além de disponibilizar uma bibliografia com livros de literatura açoriana, literatura infantil, poesia, historiografia, bem como catálogos de exposição, CDs e DVDs .

A conversa e as referências históricas dos imigrantes açorianos foram intercaladas entre um prato e outro de frutos do mar e cerveja, já que a temperatura naquela hora do dia estava no seu ápice.

Para dar uma pausa no interessante diálogo, questionei sobre se havia alguma sobremesa para encerrar aquele gostoso almoço. Élio me recomendou uma mousse de maracujá natural. Veio a coisa alegre, divertida, com algumas sementes contrastando com a cor forte da fruta. Estava corretíssima.

 

SERVIÇO

Petiscaria do Élio

Rua João de Souza Costa, 372 - Praia de Armação do Itapocorói,

Penha - SC,

CEP 88385-000

Telefone: (47) 99104-0085