Epicuro de Samos |
Vários fatores contribuíram para a mudança de hábitos das classes mais abastardas que viviam nos países da Europa, a partir do século XVII e XVIII. Grandes transformações ocorreram, principalmente sobre a mudança de hábitos alimentares. Se nos séculos anteriores a alimentação era marcada por soluções medicinais - acreditava-se que os alimentos doces e levemente salgados poderiam curar enfermidades - os franceses (sempre eles) alteraram os rumos da confecção dos alimentos e o servir.
Acreditava-se também que a alimentação estava vinculada a astrologia e a alquimia, juntamente com a medicina.
A apresentação das refeições conhecida como service à française veio para alterar o rumo da gastronomia em toda a Europa, se espalhando posteriormente para os demais continentes.
No excelente livro Banquete – Uma história ilustrada da culinária, dos costumes e da fartura à mesa, seu autor Roy Strong retrata com muita autoridade a enorme alteração dos velhos hábitos até então praticados à mesa. Sai de cena o intenso consumo de aves exóticas como pavões e cisnes, grous e garças, juntamente com lampreias e baleias, do mar, e entram nos cardápios, carne de boi, vitela, carneiro, galinha de todas as espécies, patos, marrecos, pombos e pássaros de caça. Peixes de água doce como o salmão e truta eram consumidos em grande escala, da mesma forma que os peixes do mar como o linguado, plaice ou solha (parente do linguado) e pescada.
Roy Strong cita que em Versalhes, na França, o grande jardineiro de Luis XIV, Jean de La Quintinie, obteve seu momento de glória ao cultivar em suas estufas iguarias como aspargos, cerejas, cogumelos de todos os tipos, trufas, alcachofras, alface e ervilhas. Os vegetais ocuparam lugar de honra.
“Quanto ao vinho, no último quarto de século XVII foi inventado o método Champenoise, e o consumo de champanhe decolou”. Conquistou a classe aristocrática, juntamente com os vinhos da Borgonha, conhecidos como vins de table. Da mesma forma o modismo se expandiu com o alto consumo de vários tipos de licores, águas perfumadas e bebidas geladas.
Outra novidade significativa foi a introdução do chocolate, do chá e do café, muito conhecidos, mas pouco aproveitados na França. As bebidas foram adaptadas ao gosto europeu, acrescentando-se mel ou açúcar, além de baunilha, canela e algumas vezes pimenta-do-reino para realçar o sabor. O café também iniciou seu ciclo na Europa através dos holandeses que foram os primeiros a iniciar a exploração comercial.
Todas estas “novidades” foram úteis para complementar as decisivas mudanças ocorridas numa época de intensa produção literária na França no período (1651-1789).
Alterou-se o contexto cosmológico que prevaleceu por muitos séculos.
Então a culinária tornou-se mais que uma arte.