Blog do Edson

Comentários sobre comidas, bebidas e afins.

 

Convidei a senhora de Grein Vieira para saborear algum sorvete  já que a temperatura alta estava acima do limite suportável e a tarde de sábado estava propicia ao ócio.

- A poucos metros daqui tem uma loja de chocolates que também serve sorvetes, indicou a amável madame, com voz lenta e dedo em riste.

Acordei com aquela informação e de imediato me aprontei para ir ao encontro daquela guloseima tão esperada. O sol estava radiante e muito saudável e a caminhada até o local indicado – mais ou menos 300 metros – parecia um trekking no deserto da Monróvia.

No caminho até nosso destino, minha acompanhante relembrou dois fatos consoladores para inibir o forte calor: o primeiro é que a rua que caminhávamos era em declive ( portanto iríamos mais rápido ao encontro do sorvete). E, o segundo fato é o nome da chocolataria – KOPENHAGEN -.

- Aquela da Nhá benta, da Língua de Gato e das balas leite inesquecíveis, questionei com ar de surpresa.

- Sim, ela mesma. Agora servem também... sorvetes, esclareceu a jovem senhora.

Esbaforidos chegamos ao local indicado.

Ar refrigerado, simpáticas mesinhas e prateleiras recheadas de balas, chocolates e caixas de presentes, fizeram nossos olhos saltarem de alegria.

- Queremos dois sorvetes em copinhos comestíveis, falei objetivamente para o gentil atendente de nome Kauê. E complementei: de vanilla com borda de chocolates e castanhas de caju.

Nos acomodamos numa confortável mesinha com duas cadeiras. Observei, em torno, a suave decoração, com atrações gostosas que me remeteu a infância e adolescência.

Em questão de minutos chegaram os sorvetes, apoiados em suporte de acrílico.

 Os sorvetes, no formato de casquinha recheada vieram acompanhados por chocolate Língua de Gato (opção um) ou pastilhas de chocolate Dragê (opção dois).

Foram consumidos de forma cadenciada.

Numa textura e combinação perfeita entre o frio da massa com a delicadeza do sabor adocicado da baunilha. A mescla do chocolate com castanhas de caju foi perfeita. Enfim realizamos o desejo de sorver aquela gostosa surpresa num ambiente jovem e familiar.

A fábrica de chocolates Kopenhagen está instalada no Brasil há 93 anos, primeiro num pequeno prédio no bairro de Itaim Bibi, em São Paulo. Depois sofreu um grande processo de modernização e se transferiu para o município de Tamboré,  também no Estado de São Paulo, ocupando uma área de 18 mil m2. Possui a impressionante marca de mais de 420 franqueados pelo país, com um faturamento de R$ 1,5 bilhão, de acordo com informações de grupo CRM, de 2019. Oferece os clássicos chocolates cherry brandy, chumbinho, Nhá benta, Língua de Gato e Bala Leite, (individuais ou em embalagens para presentes). Depois do processo de modernização  a Kopenhagen ampliou as ofertas com novos  produtos infantis, a linha zero açúcar, Soul Good, panetones, além dos cafés gourmet e  sorvetes especiais.

 

SERVIÇO

KOP CURITIBA  GOURMET

AVENIDA CÂNDIDO DE ABREU, 776
CENTRO CÍVICO - 

Fones – (41) 99941-7470
             

 

 A surpresa ficou por conta daquela ligação telefônica que recebi, domingo pela manhã.

Era o senhor Luiz Guilherme, que havia reservado quatro lugares, em um local que nem ele conhecia.

- Descobri um bistrô que serve paella, muito bem recomendado, afirmou.

Cheguei perto das 13 horas em um local bastante tranquilo no bairro São Francisco, em Curitiba.

Nos aguardava o senhor Paulo, que depois vim a saber que é o proprietário do Bystro Barcelona e profundo conhecedor da gastronomia espanhola.

Pois bem.

Me acomodei numa espaçosa mesa, juntamente com Mme M.L. e Mme Mayer. Ambiente agradavelmente simples e boa música nos acolheram.

Estava lá para apreciar o famoso prato valenciano e conversar sobre amenidades.

Até que me veio a ideia de discorrer das boas maneiras descritas no livro do escritor inglês, Roy Strong. Dizia ele que na Inglaterra do começo do século XVIII as mesas raramente estavam postas. “Após 1780, com a invenção das mesas com abas que podiam ser abertas ou dobradas de acordo com o número de comensais,  as cadeiras ficavam encostadas na parede e eram trazidas para junto à mesa na refeição. Anteriormente havia longas mesas solidas no salão, mesas com pesadas pranchas removíveis eram usadas por famílias para jantar nos salões... A popularidade das mesas redondas ou ovais com abas e pernas dobráveis no final do século XVII refletia um novo desejo de informalidade.”

Evidentemente que, apesar da reserva do almoço, no Bystro em questão, havia também a reserva de uma mesa adequada. E, não é que havia a melhor das mesas daquele ambiente!

Foi por esse motivo que rememorei algum dos apontamentos do grande escritor Roy Strong.

E, continuei com a alocução sobre as boas maneiras à mesa, naquele distante século XVIII.

 Já no raro livro da senhora Alice Smith, com o titulo Art of Cookery (1758), encontramos fortes resistências em aceitar os hábitos franceses à mesa, da mesma forma que aceitar sua culinária.

“Ela aprovava o velho e bom costume inglês de trinchar e servir os convidados – pela dona da casa - , que deveriam provar todos os pratos. A prática então mais recente, em que “todos se serviam do que queriam, e só comiam o que escolhiam, era visto por ela como lamentável.”

Da mesma forma que o horário das refeições passou a ser uma espécie de regra. No crepúsculo da  Idade Média o jantar – a principal refeição do dia - era servido bem mais tarde na cidade do que no campo. Para diferenciar os hábitos dos nobres, para com os dos camponeses.

As quatro ou cinco horas da tarde, quando as elites se encontravam no Petit Trianon, em Paris.

 Mas no campo, o jantar era servido a partir das 15 horas.

Já em Londres o jantar era servido às 14 horas, o chá era servido às 20 horas e a ceia, por volta das 22 horas.

Naquela época o Palácio de Versalhes continuava ditando moda sobre mesas, cadeiras  horários, talheres, guardanapos etc.,etc. Mas este é um assunto para outra crônica.

Relatos de fatos ocorridos naqueles longínquos anos, me fizeram até esquecer do gostoso prato de paella valenciana servido com todos os acompanhamentos previstos no Bystro em questão. Mas a casa se ressente de uma mínima carta de vinhos.

 

SERVIÇO

BARCELONA BYSTRO

Rua Desembargador Clotário Portugal , 269, bairro São Francisco

Curitiba – Pr.

Fones 41-3076-9950/ 99973-7162

 

A primeira impressão que tive ao adentrar no bistrô La Morada 041 – Carnes Nobres e Parrilha -  foi a de um pequeno local de encontros de negócios e familiar.

 Acertei.

A gentil atendente nos ofereceu um lugar próximo do ar condicionado, porque o local – por ser envidraçado – recebe luz do sol e calor.

Amenizou o ambiente e assim pude apreciar a sóbria decoração, e ler o cardápio com a devida calma.

Como a proposta do bistrô é enaltecer as virtudes das carnes, as principais atrações são:

1.  cortes Wagyu – que é uma raça de gado japonesa. Significa gado (gyu), do Japão (wa)

2. cortes especiais da raça Angus, tais como o Prime Rib, Short Rib, T-Bone, Picanha, o Tomahawk, Ancho, Bife de Chorizo e Assado de Tira.

Após uma rápida investida no cardápio, pedi uma ponta de costela e complementos, suficiente para duas pessoas, já que estava acompanhado da inseparável Mme M.L..

Observei um mapa do Sul da Argentina afixado na lateral de um freezer , mostrando a  extensão do lago Nauel Huapi, - que significa ilha do Jaguar, no idioma Mapuche, que habitavam a região -  em destaque. E, Bariloche que significa “povo de trás da montanha” também na língua Mapuche, e seu traçado.

Na outra extremidade, um quadro com dois cavaleiros (com rostos conhecidos) dominando uma rês. Simbólica, porque ali se acha o melhor da culinária campeira.

O diálogo com a jovem senhora foi sobre as belezas dos campos do Sul da Argentina e do Uruguai. Interrompido pela chegada da atração principal – a ponta de costela assada e seus complementos.

A carne veio deitada sobre uma chapa frisada muito quente. Acompanhavam, uma delicada salada de batatas, em outro pote, uma salada de tomates e cebolas, adequadamente temperados, e mais outro, com farofa crocante de bacon, e arroz, decorado com ervas finas.

Já no primeiro corte, senti a maciez da coisa. Estava correta na textura e no tempero, somente no sal. O que se seguiu, foi uma sucessão de elogios para o conjunto da obra. Mme M.L. não economizou adjetivos.

Para beber, cerveja Patagônia Pilsen. Uma combinação perfeita.

O La Morada tem uma proposta adequada de servir o que há de melhor das carnes e seus complementos, com uma carta de vinhos restrita e eficiente.

Possui um açougue com ofertas para facilitar o dia a dia, com cortes exclusivos, e preços reduzidos. Esta unidade dá suporte ao bistrô, que possui um espaço único para assados inspirado nas melhores churrascarias uruguaias, e no centro da churrasqueira, uma estufa aquecida com carvão vegetal. Este equipamento dá um sabor especial às carnes ali preparadas, à vista dos comensais, sob o rígido acompanhamento do mestre-assador.

E, para os churrasqueiros de plantão, o bistrô conta com um espaço que oferece diversos produtos para a confecção de um bom churrasco.

 

SERVIÇO

Bistrô La Morada 041- Carnes Nobres e Parrilla

Avenida Presidente Getúlio Vargas, 3309

Pátio Getúlio

Fone (41) 99849-0192

 

 Nossa Senhora dos Navegantes, ou simplesmente Navegantes, é um município relativamente recente, localizado ao Norte de Santa Catarina. Foi separado formalmente de Itajaí, em 1.962. Era antes disso um bairro da  margem oposta do caudaloso rio Itajaí-Açu, em sua foz. Navegantes tem uma população de perto de 83 mil habitantes. Um aeroporto internacional, denominado Ministro Victor Konder -  terminal de cargas e passageiros - que serve as populações de Camboriú, Vale do Itajaí e Itapema, com ligação aos diversos aeroportos do Brasil. E um movimentado Terminal Portuário de Navegantes, denominado Portonave S/A.

Escrevo estes dados, caríssimo(a) leitor(a), para iniciar este enfadonho texto, mas, com final feliz, já que almocei à beira do mar, numa visão deslumbrante, no vizinho município de Penha. 

Voltando ao texto, descobri que Navegantes tem um movimento anormal de caminhões, tudo em função da infraestrutura lá instalada. Além disso possui diversos barracões para estocagem de produtos de importação e exportação.

Enfim a região está em pleno desenvolvimento e consequentemente gerando muitos empregos.

Até às 14 horas estava ainda acompanhando a entrega de mais um enorme barracão próximo ao porto quando ouvi a reclamação de meu estômago avisando que já estava na hora de comer alguma coisa que desse prazer.

Então convidei Mme R. de Grein, que é engenheira Civil, de formação, para irmos em busca de nosso sustento. Novíssimas tecnologias embarcadas nos deixaram a ver navios. O computador de bordo do possante veículo nada nos indicou além de lanchonetes e fast-foods insonsos.

Seguimos a rota dos nossos instintos. 

Entramos na pacata cidade de Penha, a poucos quilômetros da dinâmica Navegantes.

Na direção do mar.

Disse para Mme. R.. "Na beira do mar encontraremos o que buscamos."

Sim – falou ela com ar de aflição, por causa da hora.

O sol refletia seus raios nas águas calmas da praia do Trapiche.

Avistei um simpático restaurante denominado Petisqueira Alírio – “Aberto todos os dias, o dia todo”. Este é o slogan do local.

Alterei a respiração, agora mais aliviado e perguntei ao simpático garçom:

- Qual é o peixe do dia?

 Além dos peixes do cardápio, temos Anchova fresca, que pode ser grelhada, servida com legumes e complementos, respondeu educadamente.

De entrada pedi ostras ao natural.

Vieram acomodadas numa”cama” de gelo, como deve ser.

As primeiras foram avidamente disputadas por mim e por Mme R., que delicadamente consumiu as primeiras três, como que por encanto. Sem esboçar qualquer sentimento.

Ao final da primeira degustação exclamou: "estavam ótimas!"

Eu tive a impressão que haviam acabado de retirá-las do mar, à nossa frente.

Depois de consumir as ostras, veio o prato principal, acompanhado de arroz branco, pirão de camarões, legumes ao vapor, e um secreto molho de alcaparras e champignons, cobertos com azeite de oliva.

Secreto porque a combinação de sabores é tão correta que a impressão era de que havia alho na receita. Foi somente impressão.

O peixe grelhado fez nossa alegria. O ar de contentamento cercou nosso diálogo, misturado com a vista do mar calmo.

Depois da agradável surpresa do almoço, informei à Mme R. que  aquele pirão de camarões que consumimos tem história de cozinheiro de mais de cinquenta anos, sem contar como é confeccionado.

Pedi ao garçom a receita.

Ele gentilmente disse que não poderia revelar.

 

 

SERVIÇO

PETISQUEIRA ALÍRIO

Avenida Elizabeth Konder Reis, 26

Praia do Trapiche – Armação – Penha- SC

Fone 47- 3345-5168

 Saí da agência bancária localizada no tradicional bairro do Bacacheri, em direção ao Cabral, em Curitiba.  A manhã estava  tipicamente de outono, com sol e ar de inicio de inverno. Uma caminhada matinal era minha expectativa.

Pensei – Vou organizar meus pensamentos desta segunda feira, caminhando e... ajustar as boas lembranças das viagens realizadas ao velho Continente. Até porque a maldita pandemia  do vírus Covid 19 nos limitou a onde estamos, sem qualquer possibilidade de visitar lugares ainda não descobertos, no hemisfério Norte.

Decidi então caminhar.

O  Bacacheri é animado, alegre. Tem  uma população de quase 25 mil habitantes.  O comércio é atrativo e atuante. O setor residencial é calmo e organizado, e conta com uma notável área de segurança que vai da vila militar pertencente ao 20 Batalhão de Infantaria do Exército e outra mais restrita ainda pertencente a Aeronáutica, com o Cindacta – Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo - e um aeroporto, agora da iniciativa privada. O capitulo da Ordem Rosa Cruz e o Museu Egípcio são referências no bairro.

Tem também outras e importantes referências que fazem do Bacacheri um orgulho para a cidade e seus habitantes. Com a certeza da ocupação, lá pelos idos do seculo 19, por imigrantes europeus, notadamente por franceses, alemães, ingleses, e outros em menor escala, me veio agradáveis lembranças de um tempo relativamente recente.

Lembrei dos éclair, consumidos em uma boulangerie, no bairro Marais, em Paris. Inesquecível experiência – primeira, visual, porque a vitrine era colorida, brilhante -, depois pelo paladar – indescritível, por ser uma bela combinação entre o doce do creme e a delicadeza da massa choux .

TRÊS.

Três éclairs,  foram consumidos ordenadamente, cadenciados. Maravilhosos. O primeiro, com o tradicional de creme de baunilhas, o segundo de caramelo e o terceiro de creme de laranjas. Um belo exagero que  me fez mais alegre. Feliz. E me trouxe lindas recordações. Da loja, do  Marais e de Paris.

Continuei caminhando e ... o que vejo?

Uma enorme bandeja de éclair no interior da Panificadora Aquárius, sobre os ombros de um confeiteiro, caminhando para expôr aquilo na vitrine.

A cena parecia um cartaz de boulangerie, ou poderia se tornar.

Entrei apressado.

Disse para a atendente: Uma bomba de creme, e um café.

Vieram.  A bomba estava brilhante, fresquíssima, acompanhada  com  café.

Meus olhos quase lacrimejaram, pelas  lembranças de um tempo que, possivelmente não mais voltará.

E pela realidade à minha frente.

Entre nós, este delicado doce chama-se bomba.

É semelhante. Bem feita. Com massa choux, suave,  e a correção do chocolate , de cobertura.

A atendente me confidenciou que o confeiteiro confecciona aquelas delicias todo início de semana.

 Gostosa surpresa.

Minha caminhada prosseguiu até o bairro Cabral, agora refeito das inesquecíveis lembranças.  

 

Panificadora Aquarius

Avenida Erasto Gaertner, 363, Bacacheri, Curitiba-Pr.

CEP 82510-160

Fone (41) 3018-5880


Cheguei no final da tarde ao centro financeiro da Alemanha.

Frankfurt am Main, ou simplesmente Frankfurt estava gelada.

Quase sete graus negativos, mas havia sol.

Depois de suprir as curiosidades várias fui atender aos reclamos de meu estômago.  

Antes, porém, curioso (a) leitor (a),vou-lhes dar algumas e breves informações sobre essa cidade.

Frankfurt é considerada uma cidade global.
 Alfa. 
Possui mais de 240 instituições bancarias e outras dezenas de agências de publicidade, além de toda a gama de segmentos para suportar esse volume de negócios, tais como, bolsa de valores, infraestrutura avançada de comunicações, um transporte público eficiente e um dos maiores aeroportos do mundo em movimentação. Além do excelente índice de qualidade de vida, universidades e número de bilionários. Há um dinamismo exagerado, mas silencioso. A cidade foi reconstruída depois de 1945. O centro histórico medieval, na época, o maior da Alemanha, foi quase totalmente destruído. E, reconstruído (uma parte).

Hoje, não há vestígios de guerras. 
Somente temores contra atos terroristas. 
Existe sim uma cidade moderna e dinâmica. 
Alegre e jovem. Muitas pessoas transitando nas duas margens do rio Meno. 
O centro geográfico se localiza no distrito da cidade de Bockenhein, próximo da estação central (hauptbahnhof).

Já se passava das 19 horas, e, com alguma indicação cheguei a Taverna 12 Apóstolos, ou  ( Zu den Zwölf Apostel).

Estava intacta.

Instalada num prédio de 140 anos, este restaurante atrai pelas comidas e pela cerveja artesanal ali produzida.

Adentrei pela estreita porta me deparei com o encanto do lugar. 
Iluminação turva deixava transparecer as mesas em madeira rústica combinando com o assoalho. Todas ocupadas naquele horário.

O gentil atendente me recomendou o subsolo.

Desci por uma estreita escada.

Outras surpresas.

 Alguns fardos de feno encostados nas paredes, bem como rodas e barris de madeira expostos entre as mesas. E, um velho balcão sinalizava toda a ambientação. O odor era característico das velhas estrebarias. Limpas.

 Me acomodei numa mesa ao lado de uma janela interna onde pude observar os tonéis e equipamentos de produção da cerveja.

O cansaço da viagem desde o Brasil não foi suficiente para alterar o ânimo e alegria em estar naquele ambiente. Bem como o de Mme. M. L., que demonstrava sorriso de felicidade. Afinal, estávamos em Frankfurt.

Uma jovem alemã nos atendeu com um largo sorriso. Pedi dois chopp –que eles entendem por van fass -  um pilsen e um weiss, e o prato mais tradicional que consiste num joelho de porco defumado e crocante, deitado sobre uma cama de  chucrute e batatas levemente grelhadas. E, bratwurst original.

Consumi aquela iguaria como se houvera retrocedido no tempo.

Mme. M. L. descreveu  o pedido como correto, macio e temperos adequados.

Ocupantes das mesas ao lado conversavam alegremente em um dialeto indecifrável.

E, eu continuei dialogando com aquele joelho com delicadeza, porque a carne estava macia e levemente defumada. Consumi numa parceria perfeita até os últimos nacos daquela iguaria. Em seguida,  mais alguns “fass”, entremeados pelas conversas agradáveis da viagem e pelas primeiras impressões sobre a cidade gelada e moderna.

Solicitei à gentil garçonete que trouxesse o cardápio de sobremesas.

Numa rápida leitura  - sem compreender quase nada – identifiquei: “apfelstrudel”.
Alegremente requisitei duas porções.

Vieram.

Acompanhados com um suave  molho de baunilha, semelhante ao creme brûllee líquido.

Foram devorados.

O strudel como é mais conhecido e originário da Áustria, é recheado e cozido no forno. A tradição sugere que seja servido ainda quente, com açúcar a gosto, apesar do gelado de baunilha e do chantili.  Outra forma agradável de o comer consiste em regá-lo com molho de baunilha, conhecido por Kanarienvogelmilch, na Áustria.

Estava corretíssimo.

Por fim,  nos foi servido uma dose de Jägermeister, original,  suficiente para suportar a baixa temperatura naquela hora da noite.

SERVIÇO
Taverna 12 Apóstolos (Zu den Zwölf Apostel)
Rosenbergerstrasse 1
60313 Frankfurt am Main
Telefone +4969-28 86 68
Alemanha
  




 

Pairava no ar um sentimento de cidadania.

Afinal, após alguns meses de tramitação de documentos, enfim ei-la.

A carta de reconhecimento de vinculo com a nação tão esperada.  

E, a alegria tomou conta daquele final de manhã em torno da Place Guillaume  II, no coração da cidade de Luxemburgo. Fazia um frio absurdo para os padrões europeus. O vento trazia gotas de água congelada que dificultava o caminhar. Não era neve ainda. Era um fenômeno conhecido como chuva congelada.
Não importava aquilo.
O fato do reconhecimento de sua origem transbordou Mme M.L. de felicidade e suas lágrimas de alegria interagiram com as gotas de chuva. A foto oficial em frente ao Bierger Centre (para registrar o acontecimento) foi preparada com muita antecedência, ainda em Curitiba, no sul do Brasil.

Um charmoso chapéu fazia parte da indumentária, bem como um sobretudo xadrez com pele na gola, uma echarpe e botas, além das inseparáveis luvas de pelica marrom.

Fotógrafo à postos e... voilá!!! 

Foi o momento da consagração.
Agora, finalmente a jovem senhora exibia o documento expedido pelo governo luxemburguês, com orgulho da sua descendência, junto ao seu corpo afixado discretamente ao lado esquerdo.

Passada a euforia pôs-se a caminhar ainda a passos lentos,  para sentir toda aquela atmosfera reinante de seu novo país. Olhava com admiração para os prédios antigos, para as ruelas ainda iluminadas pelas luzes das lojas, dos cafés, dos restaurantes. E, a cada passo, novas descobertas... Um turbilhão de informações. 

Depois de circular por mais de 15 minutos por aquele centro histórico, ela se deteve numa vitrine da loja Louis Vuitton. E continuou seu encantamento com outras lojas tão famosas quanto esta.

E prosseguiu em suas descobertas até que o frio a obrigou a interromper seus novos conhecimentos. Procurou algum lugar que pudesse lhe aquecer.

Lembrou, por uma fração de segundos, que precisava se alimentar.

Tinha acordado muito cedo e seu desjejum foi rápido por causa da euforia daquele dia que era histórico para ela e para a sua família.

 - Vamos entrar aqui, disse, apontando para a porta de um restaurante (que leva o nome da praça) ainda na Place Guillaume, ao lado de uma galeria.

Concordei de imediato, passando os olhos rapidamente para a brilhante vitrine lateral do restaurante com peixes, crustáceo e outras coisas que não pude distinguir.
Nos receberam com cortesia e nos encaminharam para uma mesa com vista para a praça.

Me desfiz dos pesados agasalhos, bem como a madame, agora cidadã luxemburguesa.
- Quero de entrada algumas ostras de número cinco. As ostras vindas da Irlanda deixarei para outro momento, disse ao jovem garçom que entendia muito bem o português falado.

E, pode nos preparar o bacalhau fresco com legumes.

- Ah ! Não esqueça a cerveja da casa!!!

A gentileza e atenção dos funcionários foram destaque para essa incursão.
Veio, em seguida, algumas fatias de pão tradicional, com molho vinagrete.
E, as ostras acomodadas numa cama de gelo. Simpáticas, atraentes e frescas.

Foram consumidas rapidamente.
Depois, chegou o bacalhau...

Olhei atentamente para ele, e em seguida para Mme M. L..

???

Sua reação foi de espanto e admiração.

O visual daquela parte do animal foi surpreendente.

Um belíssimo lombo de bacalhau adornado por legumes no vapor e batatas.
A coisa era linda. Competia bravamente com a visão da praça.

As primeiras lascas foram consumidas avidamente para confirmar se era tudo aquilo mesmo.

Madame M.L., estava exultante com a beleza da apresentação.

Da minha parte estava perfeita.

O diálogo foi sobre a agradável ambientação e sobre a temperatura interna. Sobre a exuberância da praça e seus prédios como Hotel de Ville à nossa frente e sobre a neve...

NEVE !!! exclamei, surpreso.

- Sim, caindo neve, disse a Mme.

Nos dividimos entre a delícia do preparo daquele peixe fresco, com a visão da neve na praça. Algo indescritível para os que moramos num país tropical.
Foi mais um momento sublime.

Complementamos o almoço com um tradicional crème brûlée e um café adequados, ainda extasiados.

Aproveitamos todas aquelas maravilhas olhando atentamente para a praça e seu encantamento e charme com a neve.

SERVIÇO
Brasserie Guillaume
12-14 Lugar Willian II
L-1648  Luxemburgo
Tel: +352 26 20 20 20
e-mail bg@pt.lu



Dentro de um táxi, ainda em Frankfurt, na Alemanha disse ao motorista:
- Toque para a estação de trens. Irei para Luxemburgo.

O motorista olhou com o canto dos olhos e esfregando os dedos polegar e indicador da mão direita me falou:

-Luxemburgo? Money, money ...

De pronto  não havia entendido aquela expressão,  já que estava na Europa e o euro é a moeda circulante.

Enfim...

Luxemburgo é o único grão ducado reconhecido como tal, autônomo,  e se expreme entre a Alemanha, a França  e a  Bélgica. Com 900 mil habitantes em seu território muito reduzido pelos conflitos e acordos espúrios, se acomodam algumas etnias. A língua nacional  é o luxemburguês. O francês e o alemão são línguas oficiais. Quase todos os motoristas de táxi (Mercedes-benz) falam português. Da mesma forma que o inglês. O uber foi banido no grão ducado. E, no inverno, neva.  Cai muita neve. Existem quatro moradores de rua – que se negam a sair desta condição. Eles mantém seus cachorros na coleira, porque é exigência de lei. São conhecidos pelos nomes e adotados pela comunidade. Após as 20 horas não se paga passagem de ônibus. Nem aos sábados, e muito menos aos domingos. Todos os ônibus urbanos tem ar condicionado e serviço especial para cadeirantes. Pode-se transportar bicicletas e carrinhos de bebê. O comercio é dinâmico. Tem o supermercado  Monoprix – do grupo francês Casino, fundado em 1933 (que faz a alegria de todos porque praticam preços honestos).

Tem pubs, bares, cafés e restaurantes...

Já no final da tarde me acomodei no elegante hotel Parc Belair, com calefação. O termômetro marcava -7 graus, mas sem precipitação de neve.

Haviam me recomendado um restaurante às margens do rio Alzette, na parte baixa e antiga da cidade de nome Mosconi.

Convidei Mme M.L., para mais esta incursão. 

Aceitou com ar solene, superando a fatiga de uma tarde dentro de um trem.

No caminho observei uma parte da cidade, numa mescla de prédios antigos e outros modernos. Poucas pessoas nas ruas por causa do intenso frio.

A recepção foi solene e gentil, mesmo sem reserva agendada. A lareira em pleno funcionamento aquecia o ambiente. Num pequeno elevador fui conduzido, juntamente com Mme M.L., a um dos salões de jantar. A decoração sóbria com alguns quadros e esculturas delicadas dão o tom do ambiente. Observei que tudo estava no seu devido lugar como deve ser.

Talheres, copos, guardanapos, sousplat, toalha e equipamentos periféricos de suporte.
A gentil e simpática Mme Simonetta Mosconi nos deu as boas vindas.

- Certamente que M. Illário Mosconi está no comando da cozinha, pensei.

O pequeno couvert veio acompanhado de pão italiano com ervas e patês.

Depois de algumas surpresas me foi apresentado uma das estrelas da Casa:  
Crostins de foie gras chaud, creme de haricots blanc, canellini et vieil aceto balsâmico 25 ans d’age.

Até então nada havia sido comparado com o que me foi apresentado. Causou um enorme prazer para os olhos e para a língua.

Para complementar um espumante Ferrari Brut  Chardonnay, que é produzido desde 1902 pela vinícola Ferrari, de Trento.

Esta vinícola recebeu, em 2015, o premio de melhor vinícola da Europa pela WinneEntusiast.

A elegância e delicadeza do menu oferecido foi seguido pelas massas produzidas de forma artesanal. Recebi um ravióli di ricotta, pecorino et parmesan, beurre fondu, que me remeteu para as colinas de Frascatti, na Itália.

Mme.M.L., que estava se recompondo das apresentações anteriores, recebeu um pappardele à l’ail doux et romarin, ragoût d’agneou et cardons.

As massas foram consumidas de forma cadenciada, como os passos de uma valsa vienense.

Para complementar, antes de servir o café recebi uma prancha de Quelques Plats et Desserts, de chocolates, pralines e marzipan.

Ao me despedir dos funcionários  do restaurante Mosconi, Mme M. L., foi brindada com um delicado presente: fatias crocantes de bolo inglês e uma edição do livro Les Grandes Tables Du Monde 2018, no qual consta o Restaurante Mosconi, à página 189.
Único restaurante luxemburguês desta edição.

Há 30 anos, Illario e Simonetta Mosconi são personalidades da gastronomia luxemburguesa. 

Primeiro em Esch-sur-Alzette, com o Restaurante Domus, então, em 2000, na capital. Lá, Illario inventa uma cozinha de inspiração italiana.

Este conhecido endereço europeu recebeu entre  suas muitas distinções,  uma estrela Michelin,  um 18 em cada 20 Gault & Millau e um ranking com Relais & Châteaux.

A escolha da primeira noite fria no Grão-Ducado de Luxemburgo, na mesa do restaurante Mosconi,  com vista para o rio Alzette, garantiu a experiência  e uma sensação de plenitude necessárias.

Só isso, por enquanto.


RESTAURANT MOSCONI
Membro da Relais & Châteaux desde 2005

13, rue Munster
L-2160, Luxembourg
Tel.: 
+352 54 69 94
Fax: +352 54 00 43

E-mail: 
mosconi@relaischateaux.com 


A preguiça havia tomado conta de minhas entranhas.

Mal conseguia dar alguns passos e lá vinha ela, forte, poderosa, e autoritária fazendo com que eu voltasse para o aconchego daquele comodo  -  que me abraçava com carinho e me embalava em novos sonhos.

Foi assim que passei aquela manhã, lembrando vagamente do que havia se passado na noite anterior.

Em uma fração de segundo lembrei que tinha comido muito, como há muito tempo não acontecia. Havia comido coisas tão boas que faltavam algumas horas de sono a mais para me recuperar.

E, os sonhos me remetiam a alguns pesadelos até. Sonhei que dialogava com alguns chesters falantes sobre a atual situação política do país, Sobre as prisões indevidas – afinal, todas as prisões são violências que se deveriam extinguir das índoles dos seres humanos, não é mesmo, indignado leitor.

Chester – para quem não sabe (?), são aqueles animais que surgem à cada  final do ano para alegrar a mesa dos ingênuos consumidores.

Mas, voltando aos sonhos.

Um deles – os chesters -  me dizia que as coisas iriam piorar para os políticos que se dedicam a se apossar do patrimônio alheio, tal como o Maluf ( que estará impedido de tomar os mais caros vinhos no Natal deste ano, por conta de um acerto com a Justiça).
Outro me dizia que sumiram os grandes lideres,  pensadores e filósofos como antigamente. Remetendo seu apurado pensamento para uma citação sobre Diógenes  de Sinope – aquele que andava pelas ruelas de Atenas, com uma lamparina acesa durante o dia, em busca de um homem honesto.
Diogenes optou por viver sob o abrigo de um barril com seus parcos pertences que consistia, além de uma lamparina, uma tigela , um alforje e um bastão.

E, foi assim que transcorreu aquela longa e sonolenta manhã. A cada novo fechar de olhos... novas e intrigantes histórias contadas pelos chesters.

A única coisa  real daqueles pensamentos e diálogos era a linda lembrança do frango a “craputine”,  que havia consumido, - três no total -  um por vez, da noite anterior.

Estava no Bar Palácio comemorando o aniversário do Senhor  D. Geraldo Lezan, juntamente com  M. de Corso, M. Olischevis, M. B de Jordão, M. J. de Vosgerau, e M. A. Kochla.

Recordo que discorri sobre essa relíquia gastronômica, com ar filosofal, porque a oferta se esconde no cardápio.

 “Após ordenar o pedido, a confecção leva 60 minutos para ficar no ponto.” 
É o tempo  necessário para grelhar e cozer  a ave.

Passada a surpresa e o consumo, os cavalheiros levantaram três vivas àquela sugestão.
 Foi tudo que me lembrei.

Os chesters e seus diálogos, curioso leitor, foram às conseqüências de uma noite ( e manhã) dormida com a barriga cheia.

SERVIÇO
Restaurante Bar Palácio
Rua André de Barros, 500
Fone (041) 3222-3626
Curitiba - Pr