Blog do Edson

Comentários sobre comidas, bebidas e afins.

 Um país extremamente simpático e se reinventando a cada período, com uma exemplar organização social, econômica e política. Assim é o Uruguai, que possui quase mil quilômetros de fronteira com o Brasil onde faz divisa com o estado do Rio Grande do Sul. Se caracteriza por uma enorme diversidade de paisagens, clima equilibrado e um dos melhores produtores de alimentos de alta qualidade da América.

Uruguai produziu 13,5 TWh –  TWh é uma unidade de medida da energia equivalente a 1000 GWh, ou seja, um bilhão de kWh.  Sendo 40% de energia eólica, 30% de hidrelétrica, 20% de biomassa, 6% de combustíveis fósseis e 4% de energia solar. Estes dados são do inicio da década, e até hoje sem alteração significativa.

Portanto, um país estável, com energia abundante, parque industrial sólido e em crescimento, infraestrutura disponível, com áreas urbanas com alta porcentagem de água potável e esgotamento sanitário plenamente suficiente para evitar surtos de dengue, por exemplo...

E, um dado interessante: não há favelas na capital, Montevidéu.  Quem me explicou de forma pedagógica foi uma motorista de taxi. “O Governo identifica casas e prédios abandonados. Recupera-os e deixa em condições de habitação. Acolhe famílias previamente cadastradas e acomoda nestas unidades urbanas, com uma condição. Num prazo de 180 meses o chefe da família deve apresentar comprovante de contrato de trabalho, assumindo assim um compromisso de pagamento – muitas vezes simbólico -, mas necessário para a inserção social.”

Montevidéu está há duas horas de distância de Curitiba, capital do Paraná,  via aérea. A companhia Azul faz a ligação com confortáveis aeronaves Embraer 190-E.

Já se passava das 15 horas e decidi ouvir os apelos de meus instintos. Onde poderia suprir minha curiosidade sobre as famosas parrilhas, a está hora, questionei para mim mesmo. Alguém me falou sobre um restaurante que funciona desde 1962, na rua San José, 1080, lembrei.

Caminhando,  cheguei ao local, acompanhado alegremente com Mme M.L..

 Adentrei e fui recepcionado por uma voz grave:

- Sejam Bem Vindos.

Perguntei se ainda estavam atendendo, pois que de imediato o recepcionista (que depois vim a saber, tratava-se de um dos sócios) me assegurou:

- Trabalhamos do meio dia até meia noite.

Me senti entre amigos.

Já na mesa 13, sala principal,  recebi uma simpática taça de espumante, da mesma forma que  Mme M.L.

Levantamos um brinde aos países irmãos.

O cardápio é extenso. Abre com parrilha, segue com frutos do mar e encerra com massas artesanais, além de entradas e sobremesas. Há também mais de quatrocentos rótulos de vinhos produzidos nas excelentes caves do Uruguai, bem como de vinhos produzidos nos países vizinhos.

O pedido para dois veio no tempo certo.

O entrecot com batatas fritas estava correto, na textura, no suave tempero e levemente assado quase ao ponto. Da mesma forma que as fritas. Acompanhadas com uma taça de vinho da casa. E, por fim, uma deliciosa torta gelada com amêndoas.

O restaurante El Fogón fica no centro da capital, com mais de sessenta anos de existência. E traduz o que há de melhor da gastronomia do Uruguai. Tem capacidade para atender até 280 pessoas nos quatro salões, mais um espaço na adega. As massas do cardápio são elaboradas de forma artesanal. Os cortes especiais das carnes pertencem a uma reserva exclusiva. Há também uma filial do restaurante El Fogón  na praça de alimentação do Shopping Punta Carretas.

Após nos despedirmos dos funcionários do El Fogón, apressamos o passo para chegarmos até a bilheteria do Teatro Sólis, na praça Independência. Mas está imponente atração será objeto de outro texto, proximamente.

 


SERVIÇO

Restaurante El Fogón (centro)

Rua San José, 1080

Fone (+587)290 0900

elfogon.com.uy

 

Uma bebida açoriana conhecida em regiões litorâneas de Santa Catarina pelo nome de consertada foi o ponto de partida e a gentil acolhida de boas vindas, na praia de Armação do Itapocorói, Penha (SC). O encontro ocorreu por acaso, na Petiscaria do Élio – Tradição em Frutos do Mar.

A consertada, ofertada no balcão do estabelecimento, foi consumida alegre e delicadamente. Em dois goles foi possível absorver aquele verdadeiro licor popular em um pequeno copo, que não era de cristal, mas utilizado como se fosse. E foi o inicio de uma agradável acolhida e diálogo sobre a cultura, a gastronomia e os movimentos sociais do povo açoriano que se implantou ao longo dos 40 municípios de Santa Catarina.

Élio, que atende a todos com muita gentileza e atenção, está à frente da petiscaria desde 1984. E aplica os conhecimentos de além mar. Se utiliza da pesca artesanal para oferecer produtos frescos usando alguma técnica culinária sem grandes pretensões. Uma anchova grelhada acompanhada de pirão levemente temperado, camarão soltinho ou ao bafo, bolinhos de peixe, e, mariscos ao vinagrete, fazem parte das atrações principais. Há também complementos como saladas, arroz, batatas fritas, e frango para quem é intolerante aos produtos do mar.

Descobrir a Petiscaria foi uma feliz volta no tempo com acumulo de muita história que remete aos primeiros 461 açorianos de deixaram suas terras na ilha de Açores em busca de um novo eldorado. Foi instituída a data de seis de janeiro porque neste dia no ano de 1748, está registrada a chegada dos primeiros açorianos na ilha de Santa Catarina, Florianópolis. Estas pessoas embarcaram no porto de Angra do Heroísmo no dia 21 de outubro de 1747 com destino ao Sul do Brasil. As Galeras “Jesus” e “Maria José” sob o comando do capitão Luís Lopes Coelho trouxeram a bordo 85 casais e seus familiares vindos das ilhas Terceira, Faial, São Jorge e Pico. Eram trabalhadores que tinham por vocação a agricultura. Aqui se adaptaram a pesca, principalmente da baleia, por ser abundante. 

A obra do pesquisador catarinense, de Nova Trento, doutor Walter Fernando Piazza, sob o titulo “A epopeia açorio-madeirense”, de 490 páginas, é considerada a mais completa sobre a vinda dos açorianos para Santa Catarina. Ele pesquisou em arquivos brasileiros e portugueses inclusive açorianos. Em doze capítulos discorre sobre os motivos que levaram os açorianos a migrarem para as terras brasileiras.

O tema é vasto e inconclusivo. Tem um tratamento especial junto a academia. A Universidade Federal de Santa Catarina trata do tema através do Núcleo de Estudos Açorianos (NEA) que oferece reuniões permanentes e estudos, além de disponibilizar uma bibliografia com livros de literatura açoriana, literatura infantil, poesia, historiografia, bem como catálogos de exposição, CDs e DVDs .

A conversa e as referências históricas dos imigrantes açorianos foram intercaladas entre um prato e outro de frutos do mar e cerveja, já que a temperatura naquela hora do dia estava no seu ápice.

Para dar uma pausa no interessante diálogo, questionei sobre se havia alguma sobremesa para encerrar aquele gostoso almoço. Élio me recomendou uma mousse de maracujá natural. Veio a coisa alegre, divertida, com algumas sementes contrastando com a cor forte da fruta. Estava corretíssima.

 

SERVIÇO

Petiscaria do Élio

Rua João de Souza Costa, 372 - Praia de Armação do Itapocorói,

Penha - SC,

CEP 88385-000

Telefone: (47) 99104-0085

 

Buteco é uma derivação da palavra boteco. Também aceita para a
 indicação de botequim, que vem a ser quase a mesma coisa que bar.

Surgem quase que espontaneamente e adquirem vida longa.

Lembro certa vez lendo um exemplar de Asterix (o gaulês),  onde o herói baixinho que sempre vencia as batalhas contra os romanos (após ingerir uma desconhecida poção mágica)  caminhava por uma ruela numa das cidades dominadas na região da Gália quando se deparou com um bar denominado  O Gladiador Arrependido”. 

Asterix então adentrou àquele recinto, sentou-se e pediu uma bebida para esquentar a alma e o corpo.

Aquela passagem me fez refletir sobre a história do gladiador, que depois de tantas lutas, deixou sua função para gerenciar uma taverna ou um bar, como de costume. E, certamente viveu feliz na nova atividade.

Desta forma, em essência são os bares.

Acolhem a todos com respeito e os induzem a um comportamento digno de um lutador  que encontra um local seguro, por alguns bons momentos. Os bares estão espalhados por todas as cidades do mundo. Desconheço caríssimo (a) leitor (a), alguma cidade que não possua um adequado local onde se possa beber sem ser incomodado e se alimentar de algo que propicie prazer para a língua e para o corpo.

Aqui mesmo neste espaço já descrevi histórias vivenciadas em alguns bares como sendo lugares mágicos com registros históricos de alegria, felicidade.

Ainda recentemente, final deste outubro, estava eu em busca de um local semelhante ao descrito acima, na cidade de Paranavaí, há poucos quilômetros de distancia das margens do caudaloso rio Paraná – que faz divisa com Mato Grosso do Sul. Conversava com o engenheiro J. Russi, das virtudes daquela cidade localizada no Noroeste do Estado do Paraná e do calor reinante no inicio daquela da noite. Aguardávamos ansiosos a presença do advogado e engenheiro Carlos, profundo conhecedor de toda a região, que iria nos levar para comer alguma coisa naquela cidade.

- Chegou.

- Levarei vocês à um dos lugares mais democráticos onde não há distinção de classes, e todos são iguais. Iremos ao Buteco do Tribuna!!!

Fiquei em dúvidas sobre o local, mas concordei da mesma forma que o engenheiro J. Russi.

Chegamos ao local indicado pelo advogado Carlos, e nos acomodamos na mesa 33, quase em frente ao balcão, que possui, ao fundo, exemplares das melhores bebidas destiladas da cidade.

Com o extenso cardápio em mãos, sr. Carlos pediu três porções de caldo de piranha (de entrada), depois ceviche à moda peruana, e para encerrar, iscas de fígado bovino acebolado. Tudo acompanhado de cerveja Heineken.

A partir de então os diálogos derivaram para questões outras, num clima de otimismo e amizade.

Vieram pela ordem: o caldo de piranha.

 Confesso que não havia tido a experiência – até então -  com algo tão delicado, suave e levemente temperado. A impressão que tive do pescado foi de êxtase. O caldo quente remeteu ao que há de melhor da região próxima do pantanal.

Passada a agradável experiência, veio a segunda opção: Ceviche à moda peruana.

Já havia consumido várias formas de ceviche com peixe de mar, mas, com filezinhos de tilápia (de rio) foi a primeira vez. O preparo seguiu o ritual idêntico aos consumidos no Peru, mas com o toque dos filetes de tilápia. Uma combinação perfeita para aquele momento.

Por fim, após os mais diversos temas dos diálogos, veio a terceira opção: Iscas de fígado bovino acebolado.

Foi a apoteose. Já estávamos extasiados com as opções anteriores e fomos surpreendidos com as iscas de fígado, temperadas, frescas e macias. Uma combinação perfeita para o equilibrado consumo de cerveja Heineken.

O Buteco do Tribuna, conhecido também como o Bar do Kengo se mistura com a história da cidade. É frequentado por advogados, engenheiros, magistrados e suas famílias, agricultores, fazendeiros e trabalhadores de todos os segmentos. Possui uma diversificada seleção de bebidas e várias opções de comidas em seu extenso cardápio.

O Buteco do Tribuna  possui alma, retratado em diversas histórias contadas, e que fazem parte do contexto popular.

Pedimos uma saideira.

Veio.

Perguntei para o advogado Carlos:

- Como está a temperatura desta Heineken:

-Gelada, igual a cú de foca.

 

SERVIÇO

BUTECO DO TRIBUNA

Rua Manoel Ribas, 1290.

Centro, Paranavaí,

Paraná, Brazil

Fone (44) 3422-6000

 

 Circulava pela avenida Higienópolis, na agradável cidade de   Londrina.

 Procurava atentamente uma antiga sorveteria – Sávio -   que funcionava pelas imediações, desde a década de 80.

  Foi quando M. J.  Russi me alertou.

  É ali, apontando com o dedo indicador para uma confeitaria á nossa frente.

  - Pode ser esta sim, disse.

O nome, Holandesa, me deixou em dúvida.

Os desejos de algo cremoso, adocicado,  e o visual da vitrine falaram mais alto, naquela tarde de sol.

 Entrei na confeitaria, sem qualquer cerimonia, ainda hipnotizado pelo colorido dos confeccionados doces. 

Pedi um strognoff de nozes decorado com nata e cercado de pequenos pedaços de massa folhada.

O engenheiro Júlio Russi que me acompanhava pediu um creme de “brigadeiro” que consiste em  duas massas coloridas de leite condensado - claro e escuro -, decorado com meia fatia de morango.

- Podem se acomodar em qualquer uma das mesas que levarei os doces, em seguida, disse o educado atendente.

A mesa escolhida estava posicionada ao lado de uma porta, de forma providencial para acalmar a temperatura daquela tarde.

Chegaram os pedidos.

O strognoff de nozes  veio acomodado em uma pequena taça transparente. Estava correto na consistência  e  adequado na combinação com a nata fresca, juntamente com a mescla da massa folheada. Foi consumido avidamente, com pouco diálogo.

- Como está o seu creme, perguntei.

-Está ótimo... disse o bom amigo que me acompanhava nesta empreitada.

E assim prosseguimos naquela  árdua empreitada, alternando compromissos profissionais e atendendo aos pedidos do estômago.

A cidade de Londrina, caro(a) leitor (a), tem seus encantos. As grandes fazendas que existiam em 1.920 foram aos poucos dando lugar para os bem localizados loteamentos. Foi desmembrada do município de Jataizinho e conhecido como gleba Três Bocas, no caminho da ferrovia Ourinhos - Foz do Iguaçu. Ingleses que chegaram à região a partir de 1924 instituíram a Companhia de Terras do Norte do Paraná, com a anuência do Governo Estadual.

 Histórias ricas em fatos reais que repercutem até os dias de hoje.

 

Serviço

Confeitaria Holandesa

 Av. Higienópolis, 1295 - Centro, Londrina - PR,

 CEP. 86015-010

Há muitos nomes de bairros em Curitiba. 
Destes, alguns engraçados, mas, de tão acostumados a ouvi-los seus significados passam despercebidos. Campo Comprido, Portão, Sambaqui, Sitio Cercado, Boqueirão, Barreirinha, Pilarzinho, Botiatuvinha, Xaxim, Capão Raso, Pinheirinho etc. etc. 
 
Foi passando por um bairro de nome engraçado - Bigorrilho - me deparei com o Café Anna Terra,  espaço que é dividido por uma panificadora (à direita) e um bistrô (à esquerda). 
Já se passava das 12 h.  Entrei.  Me acomodei na mesa 02 e pedi o cardápio para a atendente. Ao meu lado, Mme. M. L.,  solicitou a opção do dia, que consistia em bife acebolado, arroz, feijão, batata frita e salada com folhas verdes.                   Analisei o cardápio e fiquei com a opção dois, composta por arroz, batata sauté, bife grelhado e banana à milanesa.              No intervalo, conversamos sobre as famílias que vieram de várias cidades do país e do exterior para morar em Curitiba. Com trabalho e dedicação vêm trazendo progresso e boas novidades para a cidade. A exemplo da que administra o espaço gastronômico. Observei que no bistrô há um sistema Hi-Fi para conexão via internet. Jovens executivos acomodados em outras mesas se dedicando a conversas on-line através de seus inseparáveis lap-tops. Estudantes aguardando ansiosamente seus pedidos, enfim, um ambiente aconchegante e familiar. Servidas as saladas  com alguns molhos à disposição chegaram os pratos principais. Visual e aromas intensos. Após as primeiras garfadas perguntei para a madame

 

- Como está seu pedido?

 

- Está correto mas vou pedir mais uma porção de feijão... Disse.

 

- Por que? Insisti.

 

Porque esta quantidade é pouca para nós por causa do sabor.

 

De imediato provei o feijão e constatei que se assemelhava aos sabores caseiros. Da mesma forma que a banana à milanesa. Quentinha, crocante, e adocicada. E assim consumimos até fim, entremeados com observações de satisfação.

 

Pedimos a conta e efetuamos o pagamento diretamente no caixa, diferentemente dos procedimento nos fast-foods.

 

Serviço:

 

Café Anna Terra

 

Alameda Júlia da Costa, 1796 - Bigorrilho Fone (41) 3018-3983 e, 3077-0202


            


    P.S. Este texto foi publicado em 2009. O bistrô sofreu algumas modificações mas a qualidade continua a mesma. 

 


O idioma Quéchua é originário dos Andes peruanos e atualmente é falado por cerca de oito a dez milhões de habitantes em toda a América do Sul. Do Equador ao sul da Argentina e Chile. Durante a ocupação espanhola na América, esta língua foi intensamente utilizada para catequizar os indígenas da região incaica. A partir do século XX, o castelhano se sobrepôs à cultura Quéchua se tornando majoritária no Perú. Dialetólogos identificaram  variantes desta língua, a partir de 1960. 
Mas, porque te aborreço com estas históricas e enfadonhas informações, paciente leitor(a).

Porque estava eu a procura de alguma música que alegrasse a alma, pesquisando na Apple Music. Eis que toca o sinal do meu celular. Era M. L. G., me convidando para comer alguma coisa nesta sonolenta semana entre o Natal e Ano Novo. Admiti que seria uma árdua tarefa, excetuando as enganosas comidas ofertadas pelos fast-foods.

 - Passarei as 13:30 hrs., afirmou.

Reduzi ao mínimo meus afazeres e parti para o alegre encontro.

Convidei Mme. M.L., e Mml. M. de Mayer, para compartilhar uma mesa.

Iremos no Chinchu – Bar e Parilla, esclareceu o jovem engenheiro.

As poucas mesas estavam ocupadas. Pelo QR Code afixado na entrada do estabelecimento me candidatei a algum espaço. O Chinchu é um daqueles lugares de aparência simples, mas bastante disputado por causa de seus assados. Ocupamos quatro assentos defronte à barwoman e ao lado de uma linda chopeira Patagônia.

O diálogo girava em torno da bebida preferida pelos argentinos – Fernett Blanca, que foi criada e produzida na Itália e se expandiu no país platino. E, as carnes, com os cortes especiais...

Pedi um chopp Patagônia Amber Ale que é um estilo de cerveja que faz muito sucesso na região da Califórnia (EUA) e também é conhecida como American Red Ale . O que a diferencia é a característica mais escura, proveniente do malte utilizado, e a maior quantidade de lúpulo. Mme. M.L. pediu um chopp Patagônia Pilsen, Mml., De Mayer pediu um “tinto de verano” - que vem a ser uma bebida refrescante originária de Córdoba, na Espanha, e se tornou a mais consumida na terra de Cervantes. M. L.G., pediu uma fernett com coca-cola.

Uma vista rápida no cardápio pedimos uma parilhada calejera especial, e uma ponta de fraldinha acompanhada com um galeto, e complementos que se dividem em salada de batatas, legumes grelhados, arroz, feijão, farofa de bacon e dois molhos. As carnes vieram à pedido - mal passadas - a saber: bombom de alcatra, linguiça Bizinelli, ponta de fraldinha ( não confundir com o famoso vazio), e franguinhos corretamente assados. Mas, não se enganem. Feijão e arroz podem fazer duros questionamentos e interrogações de... porque estarem ali. A verdade é que eles dividem a atração com os assados. São simplesmente saborosos. O pedido foi suficiente para quatro pessoas.

Ao final, o diálogo com um dos criadores do espaço foi esclarecedor. O nome dado ao bar, Chinchu remete ao chinchulin, palavra originária do quéchua ch'únchull,  que vem a ser  a forma usada para se referir ao intestino delgado de gado, quando são utilizados para cozinhar este prato andino típico, que tradicionalmente acompanha os anticuchos.

Anticuchos é um prato típico do Peru, que consiste em espetinho de coração bovino, temperado e assado.

 

SERVIÇO

Chinchu, Bar e Parilla

Rua Saldanha Marinho, 1144, esquina com a Rua Brigadeiro Franco.

Curitiba – Paraná.

 

Guerra é guerra, que no final, ninguém sai ganhando. 

Que digam os combatentes da Alemanha, e os aliados, a Gran Bretanha, França, Estados Unidos e Itália e outros países  envolvidos no combate de 1914 até 1919,  causando hostilidade  entre as potências europeias, suas colônias e aliados ao redor do mundo e culminando com a rendição da Alemanha e a assinatura do Tratado de Versailles. O documento de rendição entrou em vigor em 10 de janeiro de 1920, colocando um ponto final nas hostilidades iniciadas em 1914 entre as potências europeias. O tratado devolveu a paz ao Continente e determinou que a Alemanha arcasse com todos os prejuízos causados pela guerra, principalmente as perdas financeiras. 

A ultima parcela foi quitada recentemente, em outubro de 2010. 

Os alemães o chamaram de “Ditado de Versalhes”, já que não houve nenhuma possibilidade de o país negociar as condições para a paz definitiva, gerando um sentimento de derrota e de humilhação em toda a população alemã, além de intensa crise econômica e social naquela época.

Uma das penalidades impostas aos alemães foi a devolução do território da Alsácia Lorraine para a França. Esta área havia sido anexada ao território alemão durante a guerra franco-prussiana, em 1870-1871. Além de outras mais.

Mas porque digo isto, paciente leitor (a). Porque especialmente a região da Alsácia é extremamente rica em história, cultura e economia. Sua gastronomia deu ao mundo notáveis experiências tais como o quiche lorraine e a famosa tarte flambée, além dos incomparáveis vinhos.

Muito antes desse conflito, conhecido como a primeira guerra mundial - três séculos antes -  o estadista, religioso e escritor frances  Jean-François Paul de Gondi, Cardeal de Retz (território austríaco) teria sido o mentor intelectual da criação de uma torta (Kuchen) alemã, salgada, e conhecida posteriormente como quiche.

Outra criação originária da Alsácia, a famosa tarte flambée é atribuída aos camponeses da idade média, que aproveitavam o calor dos fornos usados para assar pães e tostavam essas deliciosas massas finas. Surgia assim as kurchen tradicionais desses povos muito trabalhadores.

E assim, com muita criatividade são produzidas ao redor do mundo.

Passeando pela CasaCor, em Curitiba,  - espaço que reúne o que há de melhor em projetos de arquitetura, e decoração -  descobri um charmoso café, denominado Brod Bakery, instalado no primeiro andar, ao lado da loja Coisas de Família. Vitrine com distribuição de doces e salgados atraíram minha atenção. Cardápio com opções racionais me orientou a pedir uma quiche lorraine de bacon e cebolas caramelizadas. E, um capuccino cremoso. Mme T. de Grein Valente que me acompanhava pediu uma quiche de alho poró. 

Dialogamos sobre a ambientação, a iluminação e a correta aplicação das cores daquele espaço – produzido pela Quadrat Arquitetura. 

Vieram os pedidos.

- Como está sua quiche, perguntei para a senhora Grein Valente.

- Está quentinha, suave e delicada, me respondeu com ar de felicidade.

A minha estava correta na textura e sabor, com a crocância do bacon e a leve doçura da cebola caramelizada. E, aos poucos consumi aquela torta original da região da Alsácia, de forma cadenciada, intercalada com a interpretação oportuna do diálogo amistoso.

A Brod Bakery é uma padaria artesanal que se lançou no competitivo mercado em meio a pandemia. Tem um forte diferencial que é a qualidade e bom gosto de seus produtos. A parceria com a Quadrat Arquitetura, no espaço CasaCor foi uma pequena mostra deste êxito.


SERVIÇO

BROD BAKERY

Espaço CasaCor – 1. Andar

rua Álvaro Alvin, 91 - Curitiba - Pr.

@brodbakerycuritiba

 

 

 

 Inicialmente o lacaio (um tipo de serviçal) tinha a função de correr ao lado dos cavalos ou carruagens dos patrões, e, depois, passou a servir a mesa.

 Alguns espetáculos eram muito aguardados pelos convidados, quando, antes dos banquetes surgia algum mordomo chefiando um pequeno exército de lacaios, fardados impecavelmente. 

Estes tinham a função de atender a corte e suas extravagâncias.

Entra em cena, da mesma forma, o aparelho de jantar e os efeitos alegóricos de  serviço à francesa. Este serviço se apresenta em constante mutação à medida que as travessas eram levadas, outras chegavam e os pratos usados eram substituídos por pratos limpos. 

Surge também uma nova vasilha: o pot-à-ouille, ou terrina oval. Peça de arte em prata que era conduzida isoladamente e desempenhava o papel de peça de centro.

A mais antiga referência de uma terrine apareceu em 1719.

O que o palácio de Versalhes, na França,  estabelecia como moda, o resto do mundo logo seguia. Roy Strong afirma, em seu livro “Banquete”, que, “quase todos os aparelhos de jantar do final do século XVII e inicio do século XVIII eram feitos na França ou na Inglaterra.” Diz ainda que a prata real francesa desapareceu, parte fundida para pagar os altos custos das guerras, parte durante a Revolução. “Ainda perduram as obras  em prata de Germain, Ballin, Durand e Auguste.”

 Eram verdadeiras obras de arte expostas à mesa e admiradas pelos comensais. Na Inglaterra de 1720 a tônica eram as grandes exibições de pratos de prata dourada ou prata barroca num aparador lateral, com um balde para resfriar o vinho. Uma década depois as peças usadas na mesa incluíam terrinas, molheiras, galheteiros de açúcar, saleiros, épergnes (cesta de metal trançado para frutas e doce), e surtout.

Essa explosão de prata e prata dourada era para os ricos. Para os demais, havia estanho e cerâmica, na forma de louça esmaltada, faiança, e mais tarde, porcelana.

Na Espanha havia escassez de prata. Surgem então as belíssimas peças de cerâmica da cidade de Talavera de La Reina.

        

Mesa posta, de Vincent La Chapelle

Uma das consequências da revolução na gastronomia, como bem retrata o escritor inglês Roy Strong, em seu imperdível livro sob o titulo Banquete, foi o novo método de servir os pratos, ... “num estilo conhecido como service à la française.”   

A moda, segundo ele,  refletia a preocupação do século XVII com a ordem, o equilíbrio, o bom gosto e a elegância. O número de pratos  para cada serviço era calculado segundo uma relação fixa entre pratos e comensais. Pelo detalhamento de Strong, “uma refeição de quatro serviços para 25 pessoas, por exemplo, significava cem pratos. Podia-se multiplicar ou dividir a partir deste cálculo.”  Então, se surgissem mais alguns convidados de última hora, seria uma correria na cozinha para complementar os serviços de pelo menos quatro pratos a mais para cada comensal inesperado.

Os alimentos grandes como os assados ocupavam lugar de destaque à mesa, cercados por outras iguarias. As refeições eram divididas em serviços, dois, três, ou quatro. Ceias em apenas um serviço, além da sobremesa. Para a confecção dos alimentos usava-se a cuisine, e, o office para as sobremesas.

O maçom Vincent La Chapelle (1690 ou 1703-1745) foi um mestre cozinheiro francês que trabalhou para Phillip Dormer Stanhope (quarto Conde de Chesterfield), de William IV (Príncipe de Orange), de João V de Portugal e, em seguida, Madame de Pompadour (amante de Luís XV da França). Editou um livro sob o titulo  Le cuisine moderne  (1742) onde apresenta um plano para a mesa - como um cardápio - para uma ceia de dois serviços. La Chapelle fundou uma loja maçônica que leva seu nome, na Holanda.

É neste livro que surge o grande divisor dos costumes, do “antes e o depois”, senão vejamos: (acompanhe a ilustração deste artigo)

“Dezesseis pratos estão arranjados  em torno de uma mesa retangular, e todos os recipientes para os alimentos também são de prata. (Observa-se aqui que na década de 1770 seriam de porcelana). No centro há uma travessa oval para ¼ de vitela, ladeada por um par de esplêndidas sopeiras e um par de terrinas. Nos quatro cantos da mesa há quatro entrées  de galinha e, entre elas, mais uma vez arranjados simetricamente, mais seis pratos, dois pequenos e quatro grandes, com vários hors d’oeuvres, costeletas de carneiro com chicória, um prato de peito e enguias glaçadas com molho italiano. Durante este serviço as duas sopeiras eram removidas e substituídas por dois releves, um linguado e um salmão, exatamente na mesma posição para manter o equilíbrio estético da composição... O segundo serviço repete o padrão mas com novos pratos, incluindo um presunto como peça central e bolos, onde anteriormente estavam o linguado e o salmão. A mesa era então limpa para o serviço preparado pelo office, sempre um grande espetáculo. Podia incluir queijos, fruta em conserva e em calda, sorvete, sorbet e pudins, subordinados a um bem elaborado ponto focal, talvez uma escultura de açúcar e flores.”

Os livros de cozinha daquela época – 1700 – estavam repletos dessas disposições  de mesa posta, todas, sem nenhuma exceção, simétricas.

Como exemplo, Strong cita um quadro pintado por Martin van Meytens, retratando um banquete realizado em Frankfurt, na Alemanha,a por ocasião da coroação do arquiduque José, como rei dos romanos, isto, em 1764. No quadro com diversos detalhes, pode-se observar a quantidade de talheres postadas em uma das diversas mesas. À direita de cada prato de prata há uma faca; à esquerda, dois garfos – um com dois dentes e o outro com três -,  em frente a cada prato há uma colher virada para baixo. Todo prato tem um guardanapo cuidadosamente dobrado escondendo uma fatia de pão. O centro da mesa  é formado por um surtout, destacado o objeto rococó, contendo, no nível mais baixo, galheteiros de açúcar e garrafas de azeite e vinagre, e acima, uma tigela com frutas e flores. Em volta do surtout, na toalha de damasco branca, pode-se ver três conjuntos de vasilhas de prata, todos arrumados em ordem. As quatro maiores são sopeiras, pots à oilles; as quatro menores são terrines, e há quatro saleiros. Também se vê uma grande colher de servir, para uso dos próprios convidados. Os quadros  da época retratavam com muitos e ricos detalhes os hábitos inéditos que vieram a  se tornar uso comum depois desse século.

Grandes guardanapos eram enfiados  nas gravatas ou numa casa de botão dos homens e no decote das senhoras, caindo em amplas dobras sobre o colo. Nesta época – XVIII – a prata dava lugar à porcelana. Garfos, facas, colheres, candelabros, galheteiros, molheiras, saleiros surgem para ocupar o lugar em definitivo.

Não se colocavam copos à mesa nesta época. Quando um comensal queria beber chamava o serviçal que trazia em uma bandeja, vinho e uma jarra com água, caso se quisesse diluir a bebida. Baldes de porcelana eram usados ao pé de cada cadeira para refrescar o vinho, e  outro balde de porcelana maior, central, para dar suporte à mesa. As sobremesas eram servidas ao final das refeições, e se utilizavam de outras mesas para acomodar os pratos e copos.  Arranjos de flores já eram utilizados para harmonizar a decoração.

E, nesta época, surge a figura do lacaio, que veremos no próximo artigo.

 




 

 

Fonte de água em Roma

 Outra grande mudança nos hábitos alimentares e comportamento ocorridos no período da metade do século XVII e prosseguindo no século XVIII, foi o encontro do paladar mais refinado em detrimento das alegorias das comidas apresentadas. 

Os pratos figurativos aos poucos desapareceram. 

Foram dando lugar às comidas mais bem elaboradas, marinadas, cozidas no vapor e carnes lardeadas. Uso intenso da manteiga e do creme. A cozinha medieval e renascentista era dependente do uso de temperos exóticos como indicadores de posição social. 

Esses temperos foram aos poucos substituídos por ervas aromáticas, tais como o alho, a cebola, a salsa, hortelã, alecrim e labaça. Da mesma forma que o cerefólio, o estragão, manjericão, tomilho, louro e cebolinha davam realce ao sabor.  A mudança era da quantidade para a qualidade.

As ervas aromáticas eram bem conhecidas muito antes daquela época, mas pouco aproveitadas. Agora assumiam seu lugar numa culinária cujo uso de ingredientes aparentemente simples era tão sofisticado que se tornava inacessível fora de um espectro bastante restrito da sociedade.

A partir daí o movimento service à la française (não confundir com o servir à francesa) tomou corpo e ganhou ares de nobreza, marcando definitivamente uma nova era nas relações de todos os aspectos da gastronomia. O marco literário foi a publicação do Le cuisinier françois (1651), de François Pierre La Varenne. Segundo Roy Strong, “foi o primeiro livro de cozinha a romper definitivamente com a Idade Média, começando com receitas do bouillon, caldo de carne ou peixe que servia como base ou fonds para o repertório de pratos que se seguiam e era o alicerce do novo sistema”.  Esta publicação foi complementada por um outro livro, Le pâtissier françois (1654) sobre pratos, massas e ovos, para tortas, wafer, waffes, bolos, omeletes e biscoitos. E, um terceiro volume completava a trilogia de La Varenne, conhecida como Le parfaict confiturier (1667), que tratava dos trabalhos do office.

Surgiram a partir daí outras publicações especificamente dirigidas à aristocracia e para os cozinheiros da nobreza. Estas tinham por objetivo criar uma culinária para a  aristocracia, colocando-as em outro mundo em termos de decoração, ambiente e serviço.

Os movimentos filosóficos ganham força nesta época e com o passar do tempo surgem reações às mudanças acontecidas. O Iluminismo, por exemplo, pregava a simplicidade e comedimento. Neste conflito ideológico surge o livro La cuisine bourgeoise (1746), de Menon, que nada mais era do que um livro de receitas para as esposas burguesas.

A Inglaterra tinha uma culinária baseada no campo, e não na corte, portanto a tradição medieval continuava. O livro do francês, La Varenne, foi traduzido para o inglês em 1653, e causou muita discussão entre os intelectuais de gastronomia.  Mas, apesar de tudo as ideias da culinária francesa ganharam terreno. Willian Verrall, que aprendera seu oficio com o cozinheiro francês do duque de Newscastle, “monsieur de St. Clouet”, baseava seu A complete system of cookewry (1759), em princípios franceses. Segundo nos conta Roy Strong em seu livro, ...”nenhuma cozinha da Europa escapou ao que acontecia na França, como ninguém tampouco escaparia à mudança daí decorrente para os arranjos da mesa e a apresentação da comida."

 A famosa e delicada “Mesa Posta” que veremos a seguir.

 



Epicuro de Samos

Vários fatores contribuíram para a mudança de hábitos das classes mais abastardas que viviam nos países da Europa, a partir do século XVII e XVIII. Grandes transformações ocorreram, principalmente sobre a mudança de hábitos alimentares. Se nos séculos anteriores a alimentação era marcada por soluções medicinais - acreditava-se que os alimentos doces e levemente salgados poderiam curar enfermidades - os franceses (sempre eles) alteraram os rumos da confecção dos alimentos e o servir. 

Acreditava-se também que a alimentação estava vinculada a astrologia e a alquimia, juntamente com a medicina. 

A apresentação das refeições conhecida como service à française veio para alterar o rumo da gastronomia em toda a Europa, se espalhando posteriormente para os demais continentes.

No excelente livro Banquete – Uma história ilustrada da culinária, dos costumes e da fartura à mesa, seu autor Roy Strong retrata com muita autoridade a enorme alteração dos velhos hábitos até então praticados à mesa. Sai de cena o intenso consumo de aves exóticas como pavões e cisnes, grous e garças, juntamente com lampreias e baleias, do mar, e entram nos cardápios, carne de boi, vitela, carneiro, galinha de todas as espécies, patos, marrecos, pombos e pássaros de caça. Peixes de água doce como o salmão e truta eram consumidos em grande escala, da mesma forma que os peixes do mar como o linguado, plaice ou solha (parente do linguado) e pescada.

Roy Strong cita que em Versalhes, na França, o grande jardineiro de Luis XIV, Jean de La Quintinie, obteve seu momento de glória ao cultivar em suas estufas iguarias como aspargos, cerejas, cogumelos de todos os tipos, trufas, alcachofras, alface e ervilhas. Os vegetais ocuparam lugar de honra.

“Quanto ao vinho, no último quarto de século XVII foi inventado o método Champenoise, e o consumo de champanhe decolou”. Conquistou a classe aristocrática, juntamente com os vinhos da Borgonha, conhecidos como vins de table. Da mesma forma o modismo se expandiu com o alto consumo de  vários tipos de licores, águas perfumadas e bebidas geladas.

Outra novidade significativa foi a introdução do chocolate, do chá e do café, muito conhecidos, mas pouco aproveitados na França.  As bebidas foram adaptadas ao gosto europeu, acrescentando-se mel ou açúcar, além de baunilha, canela e algumas vezes pimenta-do-reino para realçar o sabor. O café também iniciou seu ciclo na Europa através dos holandeses que foram os primeiros a iniciar a exploração comercial.

Todas estas “novidades” foram úteis para complementar as decisivas mudanças ocorridas numa época de intensa produção literária na França no período (1651-1789). 

Alterou-se o contexto cosmológico que prevaleceu por muitos séculos.

Então a culinária tornou-se mais que uma arte.

 

 

Convidei a senhora de Grein Vieira para saborear algum sorvete  já que a temperatura alta estava acima do limite suportável e a tarde de sábado estava propicia ao ócio.

- A poucos metros daqui tem uma loja de chocolates que também serve sorvetes, indicou a amável madame, com voz lenta e dedo em riste.

Acordei com aquela informação e de imediato me aprontei para ir ao encontro daquela guloseima tão esperada. O sol estava radiante e muito saudável e a caminhada até o local indicado – mais ou menos 300 metros – parecia um trekking no deserto da Monróvia.

No caminho até nosso destino, minha acompanhante relembrou dois fatos consoladores para inibir o forte calor: o primeiro é que a rua que caminhávamos era em declive ( portanto iríamos mais rápido ao encontro do sorvete). E, o segundo fato é o nome da chocolataria – KOPENHAGEN -.

- Aquela da Nhá benta, da Língua de Gato e das balas leite inesquecíveis, questionei com ar de surpresa.

- Sim, ela mesma. Agora servem também... sorvetes, esclareceu a jovem senhora.

Esbaforidos chegamos ao local indicado.

Ar refrigerado, simpáticas mesinhas e prateleiras recheadas de balas, chocolates e caixas de presentes, fizeram nossos olhos saltarem de alegria.

- Queremos dois sorvetes em copinhos comestíveis, falei objetivamente para o gentil atendente de nome Kauê. E complementei: de vanilla com borda de chocolates e castanhas de caju.

Nos acomodamos numa confortável mesinha com duas cadeiras. Observei, em torno, a suave decoração, com atrações gostosas que me remeteu a infância e adolescência.

Em questão de minutos chegaram os sorvetes, apoiados em suporte de acrílico.

 Os sorvetes, no formato de casquinha recheada vieram acompanhados por chocolate Língua de Gato (opção um) ou pastilhas de chocolate Dragê (opção dois).

Foram consumidos de forma cadenciada.

Numa textura e combinação perfeita entre o frio da massa com a delicadeza do sabor adocicado da baunilha. A mescla do chocolate com castanhas de caju foi perfeita. Enfim realizamos o desejo de sorver aquela gostosa surpresa num ambiente jovem e familiar.

A fábrica de chocolates Kopenhagen está instalada no Brasil há 93 anos, primeiro num pequeno prédio no bairro de Itaim Bibi, em São Paulo. Depois sofreu um grande processo de modernização e se transferiu para o município de Tamboré,  também no Estado de São Paulo, ocupando uma área de 18 mil m2. Possui a impressionante marca de mais de 420 franqueados pelo país, com um faturamento de R$ 1,5 bilhão, de acordo com informações de grupo CRM, de 2019. Oferece os clássicos chocolates cherry brandy, chumbinho, Nhá benta, Língua de Gato e Bala Leite, (individuais ou em embalagens para presentes). Depois do processo de modernização  a Kopenhagen ampliou as ofertas com novos  produtos infantis, a linha zero açúcar, Soul Good, panetones, além dos cafés gourmet e  sorvetes especiais.

 

SERVIÇO

KOP CURITIBA  GOURMET

AVENIDA CÂNDIDO DE ABREU, 776
CENTRO CÍVICO - 

Fones – (41) 99941-7470
             

 

 A surpresa ficou por conta daquela ligação telefônica que recebi, domingo pela manhã.

Era o senhor Luiz Guilherme, que havia reservado quatro lugares, em um local que nem ele conhecia.

- Descobri um bistrô que serve paella, muito bem recomendado, afirmou.

Cheguei perto das 13 horas em um local bastante tranquilo no bairro São Francisco, em Curitiba.

Nos aguardava o senhor Paulo, que depois vim a saber que é o proprietário do Bystro Barcelona e profundo conhecedor da gastronomia espanhola.

Pois bem.

Me acomodei numa espaçosa mesa, juntamente com Mme M.L. e Mme Mayer. Ambiente agradavelmente simples e boa música nos acolheram.

Estava lá para apreciar o famoso prato valenciano e conversar sobre amenidades.

Até que me veio a ideia de discorrer das boas maneiras descritas no livro do escritor inglês, Roy Strong. Dizia ele que na Inglaterra do começo do século XVIII as mesas raramente estavam postas. “Após 1780, com a invenção das mesas com abas que podiam ser abertas ou dobradas de acordo com o número de comensais,  as cadeiras ficavam encostadas na parede e eram trazidas para junto à mesa na refeição. Anteriormente havia longas mesas solidas no salão, mesas com pesadas pranchas removíveis eram usadas por famílias para jantar nos salões... A popularidade das mesas redondas ou ovais com abas e pernas dobráveis no final do século XVII refletia um novo desejo de informalidade.”

Evidentemente que, apesar da reserva do almoço, no Bystro em questão, havia também a reserva de uma mesa adequada. E, não é que havia a melhor das mesas daquele ambiente!

Foi por esse motivo que rememorei algum dos apontamentos do grande escritor Roy Strong.

E, continuei com a alocução sobre as boas maneiras à mesa, naquele distante século XVIII.

 Já no raro livro da senhora Alice Smith, com o titulo Art of Cookery (1758), encontramos fortes resistências em aceitar os hábitos franceses à mesa, da mesma forma que aceitar sua culinária.

“Ela aprovava o velho e bom costume inglês de trinchar e servir os convidados – pela dona da casa - , que deveriam provar todos os pratos. A prática então mais recente, em que “todos se serviam do que queriam, e só comiam o que escolhiam, era visto por ela como lamentável.”

Da mesma forma que o horário das refeições passou a ser uma espécie de regra. No crepúsculo da  Idade Média o jantar – a principal refeição do dia - era servido bem mais tarde na cidade do que no campo. Para diferenciar os hábitos dos nobres, para com os dos camponeses.

As quatro ou cinco horas da tarde, quando as elites se encontravam no Petit Trianon, em Paris.

 Mas no campo, o jantar era servido a partir das 15 horas.

Já em Londres o jantar era servido às 14 horas, o chá era servido às 20 horas e a ceia, por volta das 22 horas.

Naquela época o Palácio de Versalhes continuava ditando moda sobre mesas, cadeiras  horários, talheres, guardanapos etc.,etc. Mas este é um assunto para outra crônica.

Relatos de fatos ocorridos naqueles longínquos anos, me fizeram até esquecer do gostoso prato de paella valenciana servido com todos os acompanhamentos previstos no Bystro em questão. Mas a casa se ressente de uma mínima carta de vinhos.

 

SERVIÇO

BARCELONA BYSTRO

Rua Desembargador Clotário Portugal , 269, bairro São Francisco

Curitiba – Pr.

Fones 41-3076-9950/ 99973-7162