Chegamos num estágio de nossa existência que não mais temos acesso aos legumes, frutas, verduras e carnes diversas de origem natural. Quase tudo que consumimos tem a supervisão do Homem.
Os peixes, por exemplo: o desejado salmão vem das águas frias da costa chilena do pacífico sob os cuidados e orientações dos eximios psicultores noruegueses.
Pela região Oeste do nosso Estado os nórdicos estão produzindo filetes de tilápia em escala industrial.
Os peixes são assépticos, é verdade.
Mas também, recebem ração balançeada.
- (??!!!)
Os camarões aqui consumidos vem de Santa Catarina.
As bananas do Vale do Ribeira (SP) tem selo de qualidade.
Carnes bovinas tem aquele carimbo azul de metileno do Serviço de Inspeção Federal.
Não sei o que é pior para a nossa fragil saúde. A carne ou a tintura impressa.
- .
Colhi, dia desses alguns limões que brotaram livremente nos confins de uma trilha na Serra do Mar.
Bebí água cristalina escondida entre morros.
Visão exuberante da mata atlântica, mas impiedosamente devastada pelo Homem, por pelo menos, nestes últimos cinquenta anos.
A convite de M. J., fui conhecer o Restaurante Empório do Largo, na pequenina cidade de Morretes, que abriga grande parte da Serra do Mar em seu território.
Na casa onde funciona o restaurante viveu um dos fundadores, chamado João de Almeida, no século XVIII.
Defronte à praça.
Nos fundos corre o rio Nhundiaquara.
Tem uma frondosa seringueira e duas palmeiras Jiçara (certamente esquecidas pelos palmiteiros da região). E, pássaros. Muitos pássaros. Contei alguns sabiás, corroiras, bicos-de-lacre, andorinhas, biguás, canários-da-terra, beija-flor.
Após o breve reconhecimento do local, me acomodei na mesa 26, no patio, debaixo da seringueira.
Com o cardápio à mão decidi por um Duetto de camarões com risoto de palmito.
M. J., pediu um barreado - que é o prato típico da região do Litoral.
Como o dia estava quente pedí cerveja long neck.
Veio, em seguida quase à temperatura ambiente.
- Tivemos um probleminha no freezer e as garrafas não estão geladas, justificou o preocupado atendente.
- Farei o possível para gelar outras, disse o "pobre" rapaz.
-Não sei como, pensei, mas vou insistir.
Vieram os pedidos.
Bem apresentados, combinando com a beleza do local.
Avançei no camarão crocante. Macio, delicado e saboroso. No fundo da terrine havia um creme de gengibre com gotas de limão. Combinação adequada.
Em seguida espetei um naco de pescada empanada, que estava "quase" ao ponto.
M. J., se serviu de risoto de palmito.
Na primeira garfada, recuou.
- Como está esse risoto, perguntei?
- Vou pedir ao garçon para aquecer um pouco mais, disse ele, com um ar de contrariedade.
- Chefe de cozinha inexperiente, pensei...
Você sabia que Morretes possui um Iate Club? E, que este rio deságua na baia de Antonina, perguntei.
- Sim, respondeu ele. Alberto Franco Ferreira da Costa recebeu o título de sócio benemérito, na década de 60.
- É. Parece que nada mudou por aqui, desde aquela época...
Somente os alimentos, por interferência do homem.
Deu-me a nítida impressão de que o tempo kairós se fez mais intensamente naquele ambiente.
Mesmo pequena, Morretes tem história de desbravadores, combatentes e políticos. Uma das cidades mais antigas do Estado. Tem economia de subsistência mas falta a presença do Estado em seu extenso território.
Depois do almoço caminhei pelas estreitas ruas com pouco movimento.
- M. J., como estava seu barreado, perguntei.
- Estava assim, meio.....
Serviço:
Restaurante Empório do Largo
Largo Dr. José Pereira, 152
Fone ( 41) 3462-1190
Morretes - Paraná