Blog do Edson

Comentários sobre comidas, bebidas e afins.



Dentro de um táxi, ainda em Frankfurt, na Alemanha disse ao motorista:
- Toque para a estação de trens. Irei para Luxemburgo.

O motorista olhou com o canto dos olhos e esfregando os dedos polegar e indicador da mão direita me falou:

-Luxemburgo? Money, money ...

De pronto  não havia entendido aquela expressão,  já que estava na Europa e o euro é a moeda circulante.

Enfim...

Luxemburgo é o único grão ducado reconhecido como tal, autônomo,  e se expreme entre a Alemanha, a França  e a  Bélgica. Com 900 mil habitantes em seu território muito reduzido pelos conflitos e acordos espúrios, se acomodam algumas etnias. A língua nacional  é o luxemburguês. O francês e o alemão são línguas oficiais. Quase todos os motoristas de táxi (Mercedes-benz) falam português. Da mesma forma que o inglês. O uber foi banido no grão ducado. E, no inverno, neva.  Cai muita neve. Existem quatro moradores de rua – que se negam a sair desta condição. Eles mantém seus cachorros na coleira, porque é exigência de lei. São conhecidos pelos nomes e adotados pela comunidade. Após as 20 horas não se paga passagem de ônibus. Nem aos sábados, e muito menos aos domingos. Todos os ônibus urbanos tem ar condicionado e serviço especial para cadeirantes. Pode-se transportar bicicletas e carrinhos de bebê. O comercio é dinâmico. Tem o supermercado  Monoprix – do grupo francês Casino, fundado em 1933 (que faz a alegria de todos porque praticam preços honestos).

Tem pubs, bares, cafés e restaurantes...

Já no final da tarde me acomodei no elegante hotel Parc Belair, com calefação. O termômetro marcava -7 graus, mas sem precipitação de neve.

Haviam me recomendado um restaurante às margens do rio Alzette, na parte baixa e antiga da cidade de nome Mosconi.

Convidei Mme M.L., para mais esta incursão. 

Aceitou com ar solene, superando a fatiga de uma tarde dentro de um trem.

No caminho observei uma parte da cidade, numa mescla de prédios antigos e outros modernos. Poucas pessoas nas ruas por causa do intenso frio.

A recepção foi solene e gentil, mesmo sem reserva agendada. A lareira em pleno funcionamento aquecia o ambiente. Num pequeno elevador fui conduzido, juntamente com Mme M.L., a um dos salões de jantar. A decoração sóbria com alguns quadros e esculturas delicadas dão o tom do ambiente. Observei que tudo estava no seu devido lugar como deve ser.

Talheres, copos, guardanapos, sousplat, toalha e equipamentos periféricos de suporte.
A gentil e simpática Mme Simonetta Mosconi nos deu as boas vindas.

- Certamente que M. Illário Mosconi está no comando da cozinha, pensei.

O pequeno couvert veio acompanhado de pão italiano com ervas e patês.

Depois de algumas surpresas me foi apresentado uma das estrelas da Casa:  
Crostins de foie gras chaud, creme de haricots blanc, canellini et vieil aceto balsâmico 25 ans d’age.

Até então nada havia sido comparado com o que me foi apresentado. Causou um enorme prazer para os olhos e para a língua.

Para complementar um espumante Ferrari Brut  Chardonnay, que é produzido desde 1902 pela vinícola Ferrari, de Trento.

Esta vinícola recebeu, em 2015, o premio de melhor vinícola da Europa pela WinneEntusiast.

A elegância e delicadeza do menu oferecido foi seguido pelas massas produzidas de forma artesanal. Recebi um ravióli di ricotta, pecorino et parmesan, beurre fondu, que me remeteu para as colinas de Frascatti, na Itália.

Mme.M.L., que estava se recompondo das apresentações anteriores, recebeu um pappardele à l’ail doux et romarin, ragoût d’agneou et cardons.

As massas foram consumidas de forma cadenciada, como os passos de uma valsa vienense.

Para complementar, antes de servir o café recebi uma prancha de Quelques Plats et Desserts, de chocolates, pralines e marzipan.

Ao me despedir dos funcionários  do restaurante Mosconi, Mme M. L., foi brindada com um delicado presente: fatias crocantes de bolo inglês e uma edição do livro Les Grandes Tables Du Monde 2018, no qual consta o Restaurante Mosconi, à página 189.
Único restaurante luxemburguês desta edição.

Há 30 anos, Illario e Simonetta Mosconi são personalidades da gastronomia luxemburguesa. 

Primeiro em Esch-sur-Alzette, com o Restaurante Domus, então, em 2000, na capital. Lá, Illario inventa uma cozinha de inspiração italiana.

Este conhecido endereço europeu recebeu entre  suas muitas distinções,  uma estrela Michelin,  um 18 em cada 20 Gault & Millau e um ranking com Relais & Châteaux.

A escolha da primeira noite fria no Grão-Ducado de Luxemburgo, na mesa do restaurante Mosconi,  com vista para o rio Alzette, garantiu a experiência  e uma sensação de plenitude necessárias.

Só isso, por enquanto.


RESTAURANT MOSCONI
Membro da Relais & Châteaux desde 2005

13, rue Munster
L-2160, Luxembourg
Tel.: 
+352 54 69 94
Fax: +352 54 00 43

E-mail: 
mosconi@relaischateaux.com 


A preguiça havia tomado conta de minhas entranhas.

Mal conseguia dar alguns passos e lá vinha ela, forte, poderosa, e autoritária fazendo com que eu voltasse para o aconchego daquele comodo  -  que me abraçava com carinho e me embalava em novos sonhos.

Foi assim que passei aquela manhã, lembrando vagamente do que havia se passado na noite anterior.

Em uma fração de segundo lembrei que tinha comido muito, como há muito tempo não acontecia. Havia comido coisas tão boas que faltavam algumas horas de sono a mais para me recuperar.

E, os sonhos me remetiam a alguns pesadelos até. Sonhei que dialogava com alguns chesters falantes sobre a atual situação política do país, Sobre as prisões indevidas – afinal, todas as prisões são violências que se deveriam extinguir das índoles dos seres humanos, não é mesmo, indignado leitor.

Chester – para quem não sabe (?), são aqueles animais que surgem à cada  final do ano para alegrar a mesa dos ingênuos consumidores.

Mas, voltando aos sonhos.

Um deles – os chesters -  me dizia que as coisas iriam piorar para os políticos que se dedicam a se apossar do patrimônio alheio, tal como o Maluf ( que estará impedido de tomar os mais caros vinhos no Natal deste ano, por conta de um acerto com a Justiça).
Outro me dizia que sumiram os grandes lideres,  pensadores e filósofos como antigamente. Remetendo seu apurado pensamento para uma citação sobre Diógenes  de Sinope – aquele que andava pelas ruelas de Atenas, com uma lamparina acesa durante o dia, em busca de um homem honesto.
Diogenes optou por viver sob o abrigo de um barril com seus parcos pertences que consistia, além de uma lamparina, uma tigela , um alforje e um bastão.

E, foi assim que transcorreu aquela longa e sonolenta manhã. A cada novo fechar de olhos... novas e intrigantes histórias contadas pelos chesters.

A única coisa  real daqueles pensamentos e diálogos era a linda lembrança do frango a “craputine”,  que havia consumido, - três no total -  um por vez, da noite anterior.

Estava no Bar Palácio comemorando o aniversário do Senhor  D. Geraldo Lezan, juntamente com  M. de Corso, M. Olischevis, M. B de Jordão, M. J. de Vosgerau, e M. A. Kochla.

Recordo que discorri sobre essa relíquia gastronômica, com ar filosofal, porque a oferta se esconde no cardápio.

 “Após ordenar o pedido, a confecção leva 60 minutos para ficar no ponto.” 
É o tempo  necessário para grelhar e cozer  a ave.

Passada a surpresa e o consumo, os cavalheiros levantaram três vivas àquela sugestão.
 Foi tudo que me lembrei.

Os chesters e seus diálogos, curioso leitor, foram às conseqüências de uma noite ( e manhã) dormida com a barriga cheia.

SERVIÇO
Restaurante Bar Palácio
Rua André de Barros, 500
Fone (041) 3222-3626
Curitiba - Pr



AI, MEU DEUS!!!

AI, MEU DEUS !!!

TIRE ESSA COISA DAQUI!!! Gritava de forma desconexa minha acompanhante, ainda com o veiculo estacionado...

 - O que houve?  Perguntei, acompanhando a agitação com as mãos.

- O que está acontecendo?

 - É o míssil do Kim???

 - O Lula foi preso???

Mme. M.L., em voz alta e extremamente agitada expressava palavras incompreensíveis...

 - (....)

Passado o susto, expliquei -  com relativa calma -  que um filhote de pomba rola entrou sem pedir licença pela janela do automóvel em que estavamos, estacionado, exatamente ao lado da passageira.

Sai apressado, contornei o veiculo e retirei do assoalho, junto aos pés da aflita senhora, o também assustado e tenro animal, dando nova chance de vida, antes que viesse a terminar a sua  numa panela fervente.

 - Onde estávamos mesmo? Questionei.

-  Ah! Sim, buscando o endereço de como chegar a um local onde servem pratos aventurosos e de sabor, recomendado por não sei quem...

Mme., estava dialogando com seu aplicativo, quando ocorreu o inesperado da pomba.
Reconheço o enorme susto que a inseparável companheira sofreu.

- Pensei: para acalmá-la, terei que rapidamente chegar até o bairro Bom Retiro. É lá que está instalado um indicado restaurante. Era final de tarde e o acesso deveria ser rápido e pouco distante.

Dei a partida e segui ao Norte como recomendando pela modernidade.

Mas, tudo que é moderno também é falível.

A administração municipal não havia informado ao meu celular que um binário estava em funcionamento a partir daquele dia.

Resumindo: Havia um binário no meu caminho.

... A trezentos metros, vire à esquerda...

Se acatasse a orientação daquela misteriosa voz do celular, certamente iria medir esforços com um ônibus de trabalhadores ou um caminhão de apoio ao cimento. E, pior: receberia uma impagável multa por transitar na contra mão.

Observei que os multadores com seus bloquinhos nas mãos,  nas esquinas, estavam eufóricos, pela proximidade do Natal...

Superei diversos obstáculos e consegui chegar ao Restaurante e Bar do Pachá.

- O binário já está fazendo seus efeitos, conclui, depois de adentrar ao recinto, com muitas mesas vazias.

O sol ainda dava o ar de sua graça.

Me apossei do cardápio, da mesma forma que Mme. M.L.. Generoso e objetivo nas ofertas. Algumas tentadoras como iscas de bacalhau, ou dobradinha, ou ainda, hackpeter, ou bolinhos de linguiça...

Havia ofertas de carnes e massas, além da “Sopa do Dia”.

Por intuição pedi Mignon à moda “Osvaldo Aranha”.

Mme. M.L., já recomposta do susto que havia sofrido, respirou fundo e pediu um Mignon simples, apenas acompanhado com batatas  fritas e farofa.

Questionei ao atendente sobre a carta de vinhos. Recebi apenas uma informação de que havia alguns vinhos sim, e nada mais respondeu.

O momento de relaxamento e observações em torno do ambiente e suas criativas decorações foram ocupados por conversa amena e descontraída, entremeada por alguns risos, por conta daquela ave  infantil (ainda).

Veio o prato que havia pedido, no tempo certo.

O Mignon Osvaldo Aranha recebeu este nome em homenagem ao diplomata gaucho que invariavelmente pedia a carne envolta em molho de lascas de alho frito em azeite, servido com batatas e farofa de ovos. O local era o restaurante Cosmopolita, apelidado de Senadinho, no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro. O prato se consolidou a partir de meados do século passado e restaurantes homenageiam o ilustre brasileiro com seu nome.

Crocante por fora e vermelho por dentro, a carne estava no ponto certo, com a combinação adequada da farofa de ovos. As batatas vieram fritas, ao contrario do prato tradicional, sem, no entanto, perder a sua identidade.

Mme. M.L. refeita, estava feliz com sua pedida que pelo semblante e silencio, estava correta.

Pedi cerveja. Veio na temperatura acertada.

E, assim transcorreu aquele inicio de noite. Agradável, sereno  e... soturno.

Isto, porque, o movimento intenso dos veículos na rua, me fez lembrar o binário – aquela invenção arquitetada pelos atuais mandatários -.
- Vamos para o binário, disse.

“No final encontraremos o bar do Pudim.”

Serviço
Restaurante Bar do Pachá
Rua Cláudio Manoel da Costa, 548
Bom Retiro – Curitiba – PR

Fone (041) 3044-4480

Milagres acontecem.

E realização de sonhos também.

Em todas as atividades de nossas vidas.

Por exemplo: sonhar estar degustando aquela comida imaginável e, depois concretizar da mesma forma que a imaginação nos conduziu, é  a realização máxima.

Foi assim que aconteceu, já pela segunda vez.

Sonhava, curioso(a) leitor (a), que consumia avidamente camarões crocantes, quentinhos, delicados e com sabor.

Verdade!!!
Sentia um delicioso sabor do camarão em meu sonho.

Acordei assustado, com uma incrível sensação que iria realizar tal delírio.

Me organizei e parti para o desjejum, sem, no entanto, esquecer o que havia acontecido durante à noite.

E, assim comecei aquele dia, lendo as notícias mais imprevisíveis, rotineiras de um jornalismo sensacionalista, com a certeza que alguma coisa boa estava prestes a acontecer.

O que passava pelos meus olhos eram notícias de acidentes aéreos, morte de magistrado, rebelião de apenados, posse do presidente Trump, temporais, instabilidades, lava jato e outras coisas mais.

A vida continuou cadenciada naquele dia, até que Mme. M.L. ligou me convidando para comer algo que pudesse alegrar o final do dia.

- Sim, podemos ir a qualquer restaurante com vocação e inspiração oriental, disse, quase que filosofando...

Houve concordância.

Lembrei que no bairro onde moro tem um destes, chamado Ken Taki, que inclusive possui “esteira” onde circulam ofertas exclusiva para os comensais.

Uma cômoda novidade.

Um brinquedinho gastronômico que eu havia conhecido algum tempo atrás,  num restaurante oriental chamado Yuzu, na pacata rue Bellechasse, 44, localizado no 7e. Arrondissement, de Paris.

Chegamos no horário marcado e nos acomodamos na mesa 27.

Pedi ao gentil atendente que regulasse a temperatura do ar condicionado pois o clima estava europeu, em pleno verão aqui no Sul.

Depois de uma rápida lida no cardápio, interroguei sobre as condições do Niguiri de atum e outros de salmão.

- Estão ótimos, disse o garçon.

Niguiri, ou Niguri-zushi, vem a ser um bolinho de arroz (Oniguiri) prensado com uma fatia de peixe cru por cima.

 Assim como diz seu significado em japonês, “sushi : feito à mão”, ele é feito a mão pelo sushiman, que deve ter habilidades para montar a peça. Veio a coisa acompanhada de uma bolinha de wasabi e gengibre.

Preparei o hashi e mirei na direção do primeiro Niguiri de atum. Passei no molho de soja e consumi.

Um perfeito festival de sabores que se espalhou por todos os cantos de minha boca.
Mme.M.L. mirou seu hashi, e com uma habilidade espantosa pescou um de salmão.

- Está delicado e fresco. Parece que retiraram do mar há poucas horas...

Depois das primeiras experiências com as coisas do oceano requisitei os camarões.

Vieram, depois de algum tempo aquelas criaturas que pulavam em meu sonho.
Saudáveis, com ares solenes.

A impressão que eu tinha naquele momento é de que aqueles animais estavam saltitantes...

Mergulhei o primeiro num molho agridoce e levei boca. A sensação foi de êxtase, Numa fração de segundos recordei as imagens dos dois sonhos que tivera.

Era perfeita a combinação da textura com o paladar.

Mme. M.L. me cutucou e perguntou se eu estava passando bem.
- ?
- Sim, respondi.

Esses camarões me fizeram viajar. Uma mágica inexplicável.

Recomposto daqueles delírios, voltei  a divagar sobre o acerto do local e dos pedidos.
Geralmente os produtos vindos da Costa chegam até nós congelados.

- Curitiba fica a quase mil metros de altitude, distante 110 quilômetros  do mar. E, os camarões que consumi  estavam frescos,  disse para Mme. M. L. que esboçou um belo sorriso.

 Ken Taki Cozinha Oriental
Rua Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, 1.011
Fone 041 3010-5455
Bairro Cristo Rei

Curitiba - Paraná
O castelo de Villa d’Este -  que fica em Tivoli, pertinho de Roma -  tem uma história muito rica. 

Foi encomendado por Ippolito d’Este, arcebispo de Milão que depois passou a cardeal. Ele reconstruiu o castelo e implantou paredes adornadas de afrescos que retratavam a vida elegante da época. Instalou diversas esculturas e fontes borbulhantes. 

Ippolito foi um dos mais ricos e pródigos cardeais do Renascimento e criador da vila que levou o sobrenome da família.
 
Para homenagear seu irmão, Ercole II, futuro duque de Ferrara, juntamente com a duquesa, promoveu um banquete memorável em 20 de maio de 1.529, no palácio dos Este, em Belfiore, uma comuna do Vêneto, na província de Verona, na Itália.

Sobre o banquete dado pelo cardeal houve o registro de 54 convidados. A mesa foi montada no jardim coberta com quatro toalhas, uma por cima da outra. Ao todo foram 18 serviços para a surpresa dos convidados. Cada serviço compreendia oito pratos. E, nada de carnes, porque o período era de abstinência.

E, o que foi servido?

Havia antipasto e saladas, além de pães e vinho.
Água de rosas perfumadas para lavar as mãos.  
Pastéis de truta, ovos cozidos condimentados e cortados ao meio, ovas de esturjão, fígado de lúcio (peixe) e miúdos de outros peixes fritos com laranja, canela e açúcar, um esturjão cozido com molho de alho enfeitado com a divisa do cardeal, peixe brema frito, sopa de fécula de trigo, pizza com pastéis folhados ao estilo catalão e pequeninos peixes do rio Pó, fritos. 
Frutas e doces de sobremesa.  
E, música. 
Muita música para alegrar os convidados.  
A festa começou ao anoitecer e se estendeu até às cinco horas da manhã, com distribuição de presentes a todos. Luvas perfumadas, brincos, bússolas e anéis.

Todos os detalhes dos banquetes da época, incluindo este, estão no livro de Cristoforo de Messisbugo, sob o titulo, Banchetti, composizionidivivende e apparecchio, escrito em  1549, com treze edições até 1626.

Por qual motivo faço essa breve citação de algo que ocorreu no Ritual Renascentista italiano?

Por um simples motivo.

Estava caminhando em direção à Piazza di Spagna, perto das 22 horas, no coração do centro histórico de Roma, pela elegante via del Babuino.

Ouvi seriamente os apelos de meu estômago e perguntei para o Sr. P. Martini - um bom amigo italiano - onde poderia apreciar uma comida, aos moldes dos banquetes renascentistas,  “respeitando o tempo e a tradição romana”?

 De imediato e com determinação apontou para a direção oposta à piazza.

- Conheço um lugar que poderá acomodar as nossas aflições, argumentou.

Caminhamos por alguns minutos e paramos numa esquina
.
-É alí, indicando com o olhar um pequeno restaurante no meio de uma rua estreita, nominada Vícolo del Babuíno.

Evidente que não há nada que remeta aos escândalos gastronômicos daquele século. Os tempos são outros. Os produtos também se modificaram, da mesma forma que os conceitos e a estética. O que se vê são poucas e boas ofertas nos restaurantes de tradição. Os bons restaurantes se limitam a uma entrada, com seus complementos, prato principal um ou dois e sobremesa e seus acompanhamentos de bebidas.

Algumas conversas e confissões de agradecimento pelas agradáveis companhias do Sr. Martini e sua amável Mme. Dorli Oliveira, partimos para uma mesa reservada na parte externa do Restaurante Edy.

-O que vamos pedir? Alertou Mme. M.L.

- Recomendo alguma massa, tipo Spaghetti, Linguine e Tagliatelle, disse o Sr. Martini, com o qual concordei de imediato.

Assim, brindamos a amizade com um Spumanti Nani Rizzi, da região de Valdobbiadene.

Após alguns minutos vieram os pratos.

Bem apresentados, com textura e sabores particularmente interessantes. Atenção especial foi dada para o Spaghetti al cartoccio (ai frutti di mare), uma das atrações da casa. A massa veio recheada com camarões, lulas, mariscos e iscas de peixe, numa correta combinação de sabores.

Depois vieram as sobremesas, que foram alegremente consumidas.

Saí daquele local histórico, pois sua construção data do século XVIII, certo de que a época Renascentista deixou suas marcas nos atuais empreendimentos gastronômicos. Sem os exageros, pois não havia limites e nem a consciência do que era correto. Hoje, passados mais de cinco séculos, há a moderação e o equilíbrio, de forma harmônica.

Voltamos a caminhar pela via del Babuíno e paramos em frente a uma fonte de águas. Havia uma escultura de um homem com corpo de um bode, representação de Sileno, personagem da mitologia romana. 
Era muito feio, e o povo, na época, apelidou de fonte do macaco, pela similaridade.

E, assim ficou conhecida uma das ruas mais elegantes do mundo.

Vá entender...

Serviço
Ristorante Edy
Vicolo del Babuíno, 4
Roma – Itália

   
A noite estava propicia para extravasar os sentimentos mais nobres do ser humano. A amizade, o amor, a sinceridade, a alegria...

Temperatura de verão e o caminhar descontraído e seguro pelas ruelas de Roma. Conversa animada sobre as alegrias da vida.

Parei em frente a uma fonte de água natural e  - como uma criança que se depara com um brinquedo – juntei as mãos, acumulei uma quantidade e sorvi despreocupado porque lá o líquido da vida não tem poluição.

Os canais subterrâneos construídos pelas mãos do Homem distribuem água para todos, com diversas fontes espalhadas nas praças e monumentos  da cidade.

Além daquelas famosas como a Fontana di Trevi há muitas outras. 

A Fontanela degli Innamorati, situada quase ao lado da de Trevi,  por exemplo, é protagonista de um ritual romântico que garante fidelidade aos casais que beberem juntos a sua água. Magia exteriorizada pela mais famosa – Fontana di Trevi -  que para se garantir um retorno à Roma e  alguma riqueza  deve-se atirar uma moeda em suas águas.

E, assim, caminhando e absorvendo conhecimentos da cidade Eterna, cheguei até o Restaurante Alfredo alla Scrofa, o autêntico, fundado em 1907.

O Senhor P. Martini, juntamente com sua Mme. D. B.Oliveira  havia feito uma reserva no horário combinado.

O atendente nos acomodou numa mesa ao lado de quadros de grandes figuras do mundo artístico.

- Lembra-se da ultima vez que tentamos um fettuccine, do Alfredo? Perguntei para Mme. M.L.

- Sim. Foi no Epcot, em Orlando. Chegamos cedo mas não conseguimos sequer uma reserva, de tão lotado. Almoçamos no espaço da Noruega, por recomendação da jornalista Marian, lembra?

- Me recordo sim. E, estava excelente aquele almoço. Mas ficou na lembrança o Alfredo. E, agora cá estamos.

E, os diálogos derivaram para os feitos das famílias, dos passeios e lugares recentes...

Vieram os pães e o vinho, um Joseph Hofstätter, gewürztraminer, safra 2013.

 O brinde foi correto.

Depois das boas conversas houve um intervalo – uma expectativa para o que estava por vir.

- ???

Num gesto incompreensível, o garçom aproximou-se e  retirou o prato que estava à frente de Mme. D. Oliveira e se dirigiu à cozinha.

Ficamos olhando um para o outro com interrogações e mais interrogações, surpresos pelo inusitado.

Passado alguns minutos ele voltou empurrando um carrinho com uma generosa terrine contendo  o famoso fettuccini, já preparado com o queijo, a manteiga e outros ingredientes secretos.

Dividiu a quantidade  em três porções, e, a quarta porção foi entregue à Mme. D., “como manda a tradição italiana”.

E, assim foi desfeita a primeira surpresa.

 A do prato.

A segunda ( o fettuccini)  foi desvendada em seguida.

Estava delicado, harmonioso e sonhador ( se é que um fettuccini pode ser sonhador, atento(a)  leitor(a))...

Provocou percepções extra-sensoriais, além dos cinco sentidos.
Uma magia além dos limites da compreensão humana.

 Após algumas garfadas voltei ao estado normal já refeito das primeiras impressões, mas, como um imã, o garfo voltava para o prato, ainda com alguma massa restante. O final foi integralmente consumido, provocando uma sensação de euforia.

As  tortas trufadas e frutas da estação foram consumidas de forma cadenciada.

-O verão está provocando altas temperaturas. Amanhã iremos passear em Frascati no final da tarde. A temperatura é mais amena e poderemos caminhar e conhecer alguma cantina, disse o Senhor Martini.

Houve concordância geral.


SERVIÇO
Restaurante Alfredo Alla Scrofa
Via della Scrofa 104 |
 Vicino Piazza Navona,

 00186 Roma, Italia