Blog do Edson

Comentários sobre comidas, bebidas e afins.


Cheguei no final da tarde ao centro financeiro da Alemanha.

Frankfurt am Main, ou simplesmente Frankfurt estava gelada.

Quase sete graus negativos, mas havia sol.

Depois de suprir as curiosidades várias fui atender aos reclamos de meu estômago.  

Antes, porém, curioso (a) leitor (a),vou-lhes dar algumas e breves informações sobre essa cidade.

Frankfurt é considerada uma cidade global.
 Alfa. 
Possui mais de 240 instituições bancarias e outras dezenas de agências de publicidade, além de toda a gama de segmentos para suportar esse volume de negócios, tais como, bolsa de valores, infraestrutura avançada de comunicações, um transporte público eficiente e um dos maiores aeroportos do mundo em movimentação. Além do excelente índice de qualidade de vida, universidades e número de bilionários. Há um dinamismo exagerado, mas silencioso. A cidade foi reconstruída depois de 1945. O centro histórico medieval, na época, o maior da Alemanha, foi quase totalmente destruído. E, reconstruído (uma parte).

Hoje, não há vestígios de guerras. 
Somente temores contra atos terroristas. 
Existe sim uma cidade moderna e dinâmica. 
Alegre e jovem. Muitas pessoas transitando nas duas margens do rio Meno. 
O centro geográfico se localiza no distrito da cidade de Bockenhein, próximo da estação central (hauptbahnhof).

Já se passava das 19 horas, e, com alguma indicação cheguei a Taverna 12 Apóstolos, ou  ( Zu den Zwölf Apostel).

Estava intacta.

Instalada num prédio de 140 anos, este restaurante atrai pelas comidas e pela cerveja artesanal ali produzida.

Adentrei pela estreita porta me deparei com o encanto do lugar. 
Iluminação turva deixava transparecer as mesas em madeira rústica combinando com o assoalho. Todas ocupadas naquele horário.

O gentil atendente me recomendou o subsolo.

Desci por uma estreita escada.

Outras surpresas.

 Alguns fardos de feno encostados nas paredes, bem como rodas e barris de madeira expostos entre as mesas. E, um velho balcão sinalizava toda a ambientação. O odor era característico das velhas estrebarias. Limpas.

 Me acomodei numa mesa ao lado de uma janela interna onde pude observar os tonéis e equipamentos de produção da cerveja.

O cansaço da viagem desde o Brasil não foi suficiente para alterar o ânimo e alegria em estar naquele ambiente. Bem como o de Mme. M. L., que demonstrava sorriso de felicidade. Afinal, estávamos em Frankfurt.

Uma jovem alemã nos atendeu com um largo sorriso. Pedi dois chopp –que eles entendem por van fass -  um pilsen e um weiss, e o prato mais tradicional que consiste num joelho de porco defumado e crocante, deitado sobre uma cama de  chucrute e batatas levemente grelhadas. E, bratwurst original.

Consumi aquela iguaria como se houvera retrocedido no tempo.

Mme. M. L. descreveu  o pedido como correto, macio e temperos adequados.

Ocupantes das mesas ao lado conversavam alegremente em um dialeto indecifrável.

E, eu continuei dialogando com aquele joelho com delicadeza, porque a carne estava macia e levemente defumada. Consumi numa parceria perfeita até os últimos nacos daquela iguaria. Em seguida,  mais alguns “fass”, entremeados pelas conversas agradáveis da viagem e pelas primeiras impressões sobre a cidade gelada e moderna.

Solicitei à gentil garçonete que trouxesse o cardápio de sobremesas.

Numa rápida leitura  - sem compreender quase nada – identifiquei: “apfelstrudel”.
Alegremente requisitei duas porções.

Vieram.

Acompanhados com um suave  molho de baunilha, semelhante ao creme brûllee líquido.

Foram devorados.

O strudel como é mais conhecido e originário da Áustria, é recheado e cozido no forno. A tradição sugere que seja servido ainda quente, com açúcar a gosto, apesar do gelado de baunilha e do chantili.  Outra forma agradável de o comer consiste em regá-lo com molho de baunilha, conhecido por Kanarienvogelmilch, na Áustria.

Estava corretíssimo.

Por fim,  nos foi servido uma dose de Jägermeister, original,  suficiente para suportar a baixa temperatura naquela hora da noite.

SERVIÇO
Taverna 12 Apóstolos (Zu den Zwölf Apostel)
Rosenbergerstrasse 1
60313 Frankfurt am Main
Telefone +4969-28 86 68
Alemanha
  




 

Pairava no ar um sentimento de cidadania.

Afinal, após alguns meses de tramitação de documentos, enfim ei-la.

A carta de reconhecimento de vinculo com a nação tão esperada.  

E, a alegria tomou conta daquele final de manhã em torno da Place Guillaume  II, no coração da cidade de Luxemburgo. Fazia um frio absurdo para os padrões europeus. O vento trazia gotas de água congelada que dificultava o caminhar. Não era neve ainda. Era um fenômeno conhecido como chuva congelada.
Não importava aquilo.
O fato do reconhecimento de sua origem transbordou Mme M.L. de felicidade e suas lágrimas de alegria interagiram com as gotas de chuva. A foto oficial em frente ao Bierger Centre (para registrar o acontecimento) foi preparada com muita antecedência, ainda em Curitiba, no sul do Brasil.

Um charmoso chapéu fazia parte da indumentária, bem como um sobretudo xadrez com pele na gola, uma echarpe e botas, além das inseparáveis luvas de pelica marrom.

Fotógrafo à postos e... voilá!!! 

Foi o momento da consagração.
Agora, finalmente a jovem senhora exibia o documento expedido pelo governo luxemburguês, com orgulho da sua descendência, junto ao seu corpo afixado discretamente ao lado esquerdo.

Passada a euforia pôs-se a caminhar ainda a passos lentos,  para sentir toda aquela atmosfera reinante de seu novo país. Olhava com admiração para os prédios antigos, para as ruelas ainda iluminadas pelas luzes das lojas, dos cafés, dos restaurantes. E, a cada passo, novas descobertas... Um turbilhão de informações. 

Depois de circular por mais de 15 minutos por aquele centro histórico, ela se deteve numa vitrine da loja Louis Vuitton. E continuou seu encantamento com outras lojas tão famosas quanto esta.

E prosseguiu em suas descobertas até que o frio a obrigou a interromper seus novos conhecimentos. Procurou algum lugar que pudesse lhe aquecer.

Lembrou, por uma fração de segundos, que precisava se alimentar.

Tinha acordado muito cedo e seu desjejum foi rápido por causa da euforia daquele dia que era histórico para ela e para a sua família.

 - Vamos entrar aqui, disse, apontando para a porta de um restaurante (que leva o nome da praça) ainda na Place Guillaume, ao lado de uma galeria.

Concordei de imediato, passando os olhos rapidamente para a brilhante vitrine lateral do restaurante com peixes, crustáceo e outras coisas que não pude distinguir.
Nos receberam com cortesia e nos encaminharam para uma mesa com vista para a praça.

Me desfiz dos pesados agasalhos, bem como a madame, agora cidadã luxemburguesa.
- Quero de entrada algumas ostras de número cinco. As ostras vindas da Irlanda deixarei para outro momento, disse ao jovem garçom que entendia muito bem o português falado.

E, pode nos preparar o bacalhau fresco com legumes.

- Ah ! Não esqueça a cerveja da casa!!!

A gentileza e atenção dos funcionários foram destaque para essa incursão.
Veio, em seguida, algumas fatias de pão tradicional, com molho vinagrete.
E, as ostras acomodadas numa cama de gelo. Simpáticas, atraentes e frescas.

Foram consumidas rapidamente.
Depois, chegou o bacalhau...

Olhei atentamente para ele, e em seguida para Mme M. L..

???

Sua reação foi de espanto e admiração.

O visual daquela parte do animal foi surpreendente.

Um belíssimo lombo de bacalhau adornado por legumes no vapor e batatas.
A coisa era linda. Competia bravamente com a visão da praça.

As primeiras lascas foram consumidas avidamente para confirmar se era tudo aquilo mesmo.

Madame M.L., estava exultante com a beleza da apresentação.

Da minha parte estava perfeita.

O diálogo foi sobre a agradável ambientação e sobre a temperatura interna. Sobre a exuberância da praça e seus prédios como Hotel de Ville à nossa frente e sobre a neve...

NEVE !!! exclamei, surpreso.

- Sim, caindo neve, disse a Mme.

Nos dividimos entre a delícia do preparo daquele peixe fresco, com a visão da neve na praça. Algo indescritível para os que moramos num país tropical.
Foi mais um momento sublime.

Complementamos o almoço com um tradicional crème brûlée e um café adequados, ainda extasiados.

Aproveitamos todas aquelas maravilhas olhando atentamente para a praça e seu encantamento e charme com a neve.

SERVIÇO
Brasserie Guillaume
12-14 Lugar Willian II
L-1648  Luxemburgo
Tel: +352 26 20 20 20
e-mail bg@pt.lu



Dentro de um táxi, ainda em Frankfurt, na Alemanha disse ao motorista:
- Toque para a estação de trens. Irei para Luxemburgo.

O motorista olhou com o canto dos olhos e esfregando os dedos polegar e indicador da mão direita me falou:

-Luxemburgo? Money, money ...

De pronto  não havia entendido aquela expressão,  já que estava na Europa e o euro é a moeda circulante.

Enfim...

Luxemburgo é o único grão ducado reconhecido como tal, autônomo,  e se expreme entre a Alemanha, a França  e a  Bélgica. Com 900 mil habitantes em seu território muito reduzido pelos conflitos e acordos espúrios, se acomodam algumas etnias. A língua nacional  é o luxemburguês. O francês e o alemão são línguas oficiais. Quase todos os motoristas de táxi (Mercedes-benz) falam português. Da mesma forma que o inglês. O uber foi banido no grão ducado. E, no inverno, neva.  Cai muita neve. Existem quatro moradores de rua – que se negam a sair desta condição. Eles mantém seus cachorros na coleira, porque é exigência de lei. São conhecidos pelos nomes e adotados pela comunidade. Após as 20 horas não se paga passagem de ônibus. Nem aos sábados, e muito menos aos domingos. Todos os ônibus urbanos tem ar condicionado e serviço especial para cadeirantes. Pode-se transportar bicicletas e carrinhos de bebê. O comercio é dinâmico. Tem o supermercado  Monoprix – do grupo francês Casino, fundado em 1933 (que faz a alegria de todos porque praticam preços honestos).

Tem pubs, bares, cafés e restaurantes...

Já no final da tarde me acomodei no elegante hotel Parc Belair, com calefação. O termômetro marcava -7 graus, mas sem precipitação de neve.

Haviam me recomendado um restaurante às margens do rio Alzette, na parte baixa e antiga da cidade de nome Mosconi.

Convidei Mme M.L., para mais esta incursão. 

Aceitou com ar solene, superando a fatiga de uma tarde dentro de um trem.

No caminho observei uma parte da cidade, numa mescla de prédios antigos e outros modernos. Poucas pessoas nas ruas por causa do intenso frio.

A recepção foi solene e gentil, mesmo sem reserva agendada. A lareira em pleno funcionamento aquecia o ambiente. Num pequeno elevador fui conduzido, juntamente com Mme M.L., a um dos salões de jantar. A decoração sóbria com alguns quadros e esculturas delicadas dão o tom do ambiente. Observei que tudo estava no seu devido lugar como deve ser.

Talheres, copos, guardanapos, sousplat, toalha e equipamentos periféricos de suporte.
A gentil e simpática Mme Simonetta Mosconi nos deu as boas vindas.

- Certamente que M. Illário Mosconi está no comando da cozinha, pensei.

O pequeno couvert veio acompanhado de pão italiano com ervas e patês.

Depois de algumas surpresas me foi apresentado uma das estrelas da Casa:  
Crostins de foie gras chaud, creme de haricots blanc, canellini et vieil aceto balsâmico 25 ans d’age.

Até então nada havia sido comparado com o que me foi apresentado. Causou um enorme prazer para os olhos e para a língua.

Para complementar um espumante Ferrari Brut  Chardonnay, que é produzido desde 1902 pela vinícola Ferrari, de Trento.

Esta vinícola recebeu, em 2015, o premio de melhor vinícola da Europa pela WinneEntusiast.

A elegância e delicadeza do menu oferecido foi seguido pelas massas produzidas de forma artesanal. Recebi um ravióli di ricotta, pecorino et parmesan, beurre fondu, que me remeteu para as colinas de Frascatti, na Itália.

Mme.M.L., que estava se recompondo das apresentações anteriores, recebeu um pappardele à l’ail doux et romarin, ragoût d’agneou et cardons.

As massas foram consumidas de forma cadenciada, como os passos de uma valsa vienense.

Para complementar, antes de servir o café recebi uma prancha de Quelques Plats et Desserts, de chocolates, pralines e marzipan.

Ao me despedir dos funcionários  do restaurante Mosconi, Mme M. L., foi brindada com um delicado presente: fatias crocantes de bolo inglês e uma edição do livro Les Grandes Tables Du Monde 2018, no qual consta o Restaurante Mosconi, à página 189.
Único restaurante luxemburguês desta edição.

Há 30 anos, Illario e Simonetta Mosconi são personalidades da gastronomia luxemburguesa. 

Primeiro em Esch-sur-Alzette, com o Restaurante Domus, então, em 2000, na capital. Lá, Illario inventa uma cozinha de inspiração italiana.

Este conhecido endereço europeu recebeu entre  suas muitas distinções,  uma estrela Michelin,  um 18 em cada 20 Gault & Millau e um ranking com Relais & Châteaux.

A escolha da primeira noite fria no Grão-Ducado de Luxemburgo, na mesa do restaurante Mosconi,  com vista para o rio Alzette, garantiu a experiência  e uma sensação de plenitude necessárias.

Só isso, por enquanto.


RESTAURANT MOSCONI
Membro da Relais & Châteaux desde 2005

13, rue Munster
L-2160, Luxembourg
Tel.: 
+352 54 69 94
Fax: +352 54 00 43

E-mail: 
mosconi@relaischateaux.com 


A preguiça havia tomado conta de minhas entranhas.

Mal conseguia dar alguns passos e lá vinha ela, forte, poderosa, e autoritária fazendo com que eu voltasse para o aconchego daquele comodo  -  que me abraçava com carinho e me embalava em novos sonhos.

Foi assim que passei aquela manhã, lembrando vagamente do que havia se passado na noite anterior.

Em uma fração de segundo lembrei que tinha comido muito, como há muito tempo não acontecia. Havia comido coisas tão boas que faltavam algumas horas de sono a mais para me recuperar.

E, os sonhos me remetiam a alguns pesadelos até. Sonhei que dialogava com alguns chesters falantes sobre a atual situação política do país, Sobre as prisões indevidas – afinal, todas as prisões são violências que se deveriam extinguir das índoles dos seres humanos, não é mesmo, indignado leitor.

Chester – para quem não sabe (?), são aqueles animais que surgem à cada  final do ano para alegrar a mesa dos ingênuos consumidores.

Mas, voltando aos sonhos.

Um deles – os chesters -  me dizia que as coisas iriam piorar para os políticos que se dedicam a se apossar do patrimônio alheio, tal como o Maluf ( que estará impedido de tomar os mais caros vinhos no Natal deste ano, por conta de um acerto com a Justiça).
Outro me dizia que sumiram os grandes lideres,  pensadores e filósofos como antigamente. Remetendo seu apurado pensamento para uma citação sobre Diógenes  de Sinope – aquele que andava pelas ruelas de Atenas, com uma lamparina acesa durante o dia, em busca de um homem honesto.
Diogenes optou por viver sob o abrigo de um barril com seus parcos pertences que consistia, além de uma lamparina, uma tigela , um alforje e um bastão.

E, foi assim que transcorreu aquela longa e sonolenta manhã. A cada novo fechar de olhos... novas e intrigantes histórias contadas pelos chesters.

A única coisa  real daqueles pensamentos e diálogos era a linda lembrança do frango a “craputine”,  que havia consumido, - três no total -  um por vez, da noite anterior.

Estava no Bar Palácio comemorando o aniversário do Senhor  D. Geraldo Lezan, juntamente com  M. de Corso, M. Olischevis, M. B de Jordão, M. J. de Vosgerau, e M. A. Kochla.

Recordo que discorri sobre essa relíquia gastronômica, com ar filosofal, porque a oferta se esconde no cardápio.

 “Após ordenar o pedido, a confecção leva 60 minutos para ficar no ponto.” 
É o tempo  necessário para grelhar e cozer  a ave.

Passada a surpresa e o consumo, os cavalheiros levantaram três vivas àquela sugestão.
 Foi tudo que me lembrei.

Os chesters e seus diálogos, curioso leitor, foram às conseqüências de uma noite ( e manhã) dormida com a barriga cheia.

SERVIÇO
Restaurante Bar Palácio
Rua André de Barros, 500
Fone (041) 3222-3626
Curitiba - Pr



AI, MEU DEUS!!!

AI, MEU DEUS !!!

TIRE ESSA COISA DAQUI!!! Gritava de forma desconexa minha acompanhante, ainda com o veiculo estacionado...

 - O que houve?  Perguntei, acompanhando a agitação com as mãos.

- O que está acontecendo?

 - É o míssil do Kim???

 - O Lula foi preso???

Mme. M.L., em voz alta e extremamente agitada expressava palavras incompreensíveis...

 - (....)

Passado o susto, expliquei -  com relativa calma -  que um filhote de pomba rola entrou sem pedir licença pela janela do automóvel em que estavamos, estacionado, exatamente ao lado da passageira.

Sai apressado, contornei o veiculo e retirei do assoalho, junto aos pés da aflita senhora, o também assustado e tenro animal, dando nova chance de vida, antes que viesse a terminar a sua  numa panela fervente.

 - Onde estávamos mesmo? Questionei.

-  Ah! Sim, buscando o endereço de como chegar a um local onde servem pratos aventurosos e de sabor, recomendado por não sei quem...

Mme., estava dialogando com seu aplicativo, quando ocorreu o inesperado da pomba.
Reconheço o enorme susto que a inseparável companheira sofreu.

- Pensei: para acalmá-la, terei que rapidamente chegar até o bairro Bom Retiro. É lá que está instalado um indicado restaurante. Era final de tarde e o acesso deveria ser rápido e pouco distante.

Dei a partida e segui ao Norte como recomendando pela modernidade.

Mas, tudo que é moderno também é falível.

A administração municipal não havia informado ao meu celular que um binário estava em funcionamento a partir daquele dia.

Resumindo: Havia um binário no meu caminho.

... A trezentos metros, vire à esquerda...

Se acatasse a orientação daquela misteriosa voz do celular, certamente iria medir esforços com um ônibus de trabalhadores ou um caminhão de apoio ao cimento. E, pior: receberia uma impagável multa por transitar na contra mão.

Observei que os multadores com seus bloquinhos nas mãos,  nas esquinas, estavam eufóricos, pela proximidade do Natal...

Superei diversos obstáculos e consegui chegar ao Restaurante e Bar do Pachá.

- O binário já está fazendo seus efeitos, conclui, depois de adentrar ao recinto, com muitas mesas vazias.

O sol ainda dava o ar de sua graça.

Me apossei do cardápio, da mesma forma que Mme. M.L.. Generoso e objetivo nas ofertas. Algumas tentadoras como iscas de bacalhau, ou dobradinha, ou ainda, hackpeter, ou bolinhos de linguiça...

Havia ofertas de carnes e massas, além da “Sopa do Dia”.

Por intuição pedi Mignon à moda “Osvaldo Aranha”.

Mme. M.L., já recomposta do susto que havia sofrido, respirou fundo e pediu um Mignon simples, apenas acompanhado com batatas  fritas e farofa.

Questionei ao atendente sobre a carta de vinhos. Recebi apenas uma informação de que havia alguns vinhos sim, e nada mais respondeu.

O momento de relaxamento e observações em torno do ambiente e suas criativas decorações foram ocupados por conversa amena e descontraída, entremeada por alguns risos, por conta daquela ave  infantil (ainda).

Veio o prato que havia pedido, no tempo certo.

O Mignon Osvaldo Aranha recebeu este nome em homenagem ao diplomata gaucho que invariavelmente pedia a carne envolta em molho de lascas de alho frito em azeite, servido com batatas e farofa de ovos. O local era o restaurante Cosmopolita, apelidado de Senadinho, no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro. O prato se consolidou a partir de meados do século passado e restaurantes homenageiam o ilustre brasileiro com seu nome.

Crocante por fora e vermelho por dentro, a carne estava no ponto certo, com a combinação adequada da farofa de ovos. As batatas vieram fritas, ao contrario do prato tradicional, sem, no entanto, perder a sua identidade.

Mme. M.L. refeita, estava feliz com sua pedida que pelo semblante e silencio, estava correta.

Pedi cerveja. Veio na temperatura acertada.

E, assim transcorreu aquele inicio de noite. Agradável, sereno  e... soturno.

Isto, porque, o movimento intenso dos veículos na rua, me fez lembrar o binário – aquela invenção arquitetada pelos atuais mandatários -.
- Vamos para o binário, disse.

“No final encontraremos o bar do Pudim.”

Serviço
Restaurante Bar do Pachá
Rua Cláudio Manoel da Costa, 548
Bom Retiro – Curitiba – PR

Fone (041) 3044-4480

Milagres acontecem.

E realização de sonhos também.

Em todas as atividades de nossas vidas.

Por exemplo: sonhar estar degustando aquela comida imaginável e, depois concretizar da mesma forma que a imaginação nos conduziu, é  a realização máxima.

Foi assim que aconteceu, já pela segunda vez.

Sonhava, curioso(a) leitor (a), que consumia avidamente camarões crocantes, quentinhos, delicados e com sabor.

Verdade!!!
Sentia um delicioso sabor do camarão em meu sonho.

Acordei assustado, com uma incrível sensação que iria realizar tal delírio.

Me organizei e parti para o desjejum, sem, no entanto, esquecer o que havia acontecido durante à noite.

E, assim comecei aquele dia, lendo as notícias mais imprevisíveis, rotineiras de um jornalismo sensacionalista, com a certeza que alguma coisa boa estava prestes a acontecer.

O que passava pelos meus olhos eram notícias de acidentes aéreos, morte de magistrado, rebelião de apenados, posse do presidente Trump, temporais, instabilidades, lava jato e outras coisas mais.

A vida continuou cadenciada naquele dia, até que Mme. M.L. ligou me convidando para comer algo que pudesse alegrar o final do dia.

- Sim, podemos ir a qualquer restaurante com vocação e inspiração oriental, disse, quase que filosofando...

Houve concordância.

Lembrei que no bairro onde moro tem um destes, chamado Ken Taki, que inclusive possui “esteira” onde circulam ofertas exclusiva para os comensais.

Uma cômoda novidade.

Um brinquedinho gastronômico que eu havia conhecido algum tempo atrás,  num restaurante oriental chamado Yuzu, na pacata rue Bellechasse, 44, localizado no 7e. Arrondissement, de Paris.

Chegamos no horário marcado e nos acomodamos na mesa 27.

Pedi ao gentil atendente que regulasse a temperatura do ar condicionado pois o clima estava europeu, em pleno verão aqui no Sul.

Depois de uma rápida lida no cardápio, interroguei sobre as condições do Niguiri de atum e outros de salmão.

- Estão ótimos, disse o garçon.

Niguiri, ou Niguri-zushi, vem a ser um bolinho de arroz (Oniguiri) prensado com uma fatia de peixe cru por cima.

 Assim como diz seu significado em japonês, “sushi : feito à mão”, ele é feito a mão pelo sushiman, que deve ter habilidades para montar a peça. Veio a coisa acompanhada de uma bolinha de wasabi e gengibre.

Preparei o hashi e mirei na direção do primeiro Niguiri de atum. Passei no molho de soja e consumi.

Um perfeito festival de sabores que se espalhou por todos os cantos de minha boca.
Mme.M.L. mirou seu hashi, e com uma habilidade espantosa pescou um de salmão.

- Está delicado e fresco. Parece que retiraram do mar há poucas horas...

Depois das primeiras experiências com as coisas do oceano requisitei os camarões.

Vieram, depois de algum tempo aquelas criaturas que pulavam em meu sonho.
Saudáveis, com ares solenes.

A impressão que eu tinha naquele momento é de que aqueles animais estavam saltitantes...

Mergulhei o primeiro num molho agridoce e levei boca. A sensação foi de êxtase, Numa fração de segundos recordei as imagens dos dois sonhos que tivera.

Era perfeita a combinação da textura com o paladar.

Mme. M.L. me cutucou e perguntou se eu estava passando bem.
- ?
- Sim, respondi.

Esses camarões me fizeram viajar. Uma mágica inexplicável.

Recomposto daqueles delírios, voltei  a divagar sobre o acerto do local e dos pedidos.
Geralmente os produtos vindos da Costa chegam até nós congelados.

- Curitiba fica a quase mil metros de altitude, distante 110 quilômetros  do mar. E, os camarões que consumi  estavam frescos,  disse para Mme. M. L. que esboçou um belo sorriso.

 Ken Taki Cozinha Oriental
Rua Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, 1.011
Fone 041 3010-5455
Bairro Cristo Rei

Curitiba - Paraná