Quantas portas de
entrada têm Madrid?
Para descobrir contei
algumas.
As mais antigas eram
quatro, quando a cidade apenas um
povoado.
Ao contar as portas
descobri que Madrid é uma grande praça, cercada de pequenas cidades. E, nesta
existem algumas vias de trânsito lento e outras somente para pedestres.
É
limpa, respeitosa e ao mesmo tempo barulhenta.
Os barulhos são diversos.
Das
conversas altas nas ruas, principalmente das vozes femininas; dos sinais de
trânsito que emitem um barulho para chamar atenção sobre o tempo disponível
para os veículos e para os pedestres. E, principalmente dos barulhos de pratos,
talheres e copos vindos dos bares e restaurante. Estes sim afugentam os ouvidos
mais sensíveis...
Afora os barulhos,
turistas e o calor nesta época do ano, Madrid é perfumada. Há os perfumes dos
ciprestes, das alfazemas e dos jamons
pendurados nas entradas dos locais exclusivos para tapas.
Ao circular pelas
proximidades do Mercado de São Miguel, descendo a calle de Cuchilleros parei
para descansar em frente ao número 17.
Já passava das 19 horas, mas a luz do
sol era intensa.
- É aqui. É aqui, disse
Mme. M.L.
- Aqui, o quê ?
Interroguei, assustado.
É aqui o local que o
Sr. C. de Oliveira nos recomendou...
Lembrei de uma conversa
que tivera ainda em Curitiba com o bom amigo C. de Oliveira que visitou alguns
meses antes o mesmo local e me havia dito que era o restaurante mais antigo em
funcionamento.
Olhei para uma placa
acima da porta de entrada:
Restaurante
Sobrino de Botín ( Horno de Assar).
É. É aqui mesmo, ainda
meio gaguejando, e com suor nas mãos.
Me aproximei de uma
janela lateral à porta principal, ainda extasiado pelo fato de estar diante de
um verdadeiro monumento da gastronomia mundial.
Fiz uma detalhada
leitura de um certificado concedido pelo Guinness, o livro dos Recordes. Lá
consta e registra o local como o mais antigo restaurante em funcionamento.
Desde 1.725 !!!
Uau!!! Onde fui parar?
Ainda com a respiração
irregular fui me afastando daquele local para retornar no dia seguinte, com
reserva confirmada para as 21 horas.
Confesso que passei o
dia seguinte apreensivo para o que viria acontecer naquele local.
Traje social como
convém, cheguei no horário reservado.
- Mesa para dois.
- Esta. Apontou o
gentil atendente, para uma, com dois lugares, na sala de entrada.
Olhei detalhadamente
para as paredes, com tijolo à vista, a toalha de linho branca, os pratos de
aparência simples e talheres adequados, bem como os copos e taças.
Com o cardápio de
opções racionais pedi o ” menu da casa, para a estação primavera e verão”, que
consiste em um Gazpacho , leitão assado e sobremesa, além de pão, vinho,
cerveja e água mineral.
Mme. M.L., pediu um
bacalhau grelhado com molho de tomates.
Silencio.
Vieram os pães,
quentinhos.
Em seguida o vinho,
encorpado, frutado, com um toque de carvalho.
O gazpacho, frio,
adequado para o verão.
E as atrações: o
bacalhau em uma terrine, foi servido em partes.
E, o leitão.
Veio tenro, crocante
por fora, com um tempero equilibrado, acompanhado de batatas assadas no mesmo
molho. E, deve ser comido com nacos de pão molhados no tempero.
O leitão é assado no antigo forno - arquitetura mourisca - que
depois de quase três séculos de
construção ( desde1.725 )ainda assa
leitões da região da Segovia , que são uma das atrações da Casa. Para aquecer é usado madeira de carvalho que
confere ao animal um aroma único. Com abertura exterior e a porta aberta torna
menor a temperatura e o processo de cozimento mais demorado, cozido, para obter o ponto de excelência e qualidade do
leitão e cordeiro assado ao estilo tradicional.
Foi
consumido aos poucos. Sem pressa. Cadenciado. Sorvido, como se eu quisesse
receber todos os conhecimentos que por ali passaram.
Quanta
história...
Guerras,
conflitos, amores, crises, seduções, feitiços, fortunas...
-
???
Bem
à minha frente, um jovem que havia terminado de jantar retira uma camisa e
expõe uma regata. Devolve a camisa ao garçom. Emprestada. Porque alí não se
permite trajes inadequados.
Aprovei
a sobremesa, uma tortilha de maças, levemente aquecida e com massa crocante. E
um sorvete feito na Casa.
Após
, o gerente Sr. A. González Bennike, me
convidou para conhecer as outras salas onde são servidas as refeições. E, por
fim, o forno, datado de 1.725 e em funcionamento até hoje.
-Há
um registro de que Goyá, o pintor, trabalhou aqui por um período, disse, com
orgulho, o Sr. Bennike.
Não
é pouca história...
SERVIÇO
Restaurante
Sobrino de BOTÍN
Calle
Cuchilleros, 17
Madrid
– Espanha
Só uma palavra: Delícia!
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